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18/09/2015
Intervenção de Mariana Silva no debate sobre Políticas do Mar
Boa tarde a todos.
Começar por agradecer à Faculdade de Engenharia da Universidade do Porto, em nome do Partido Ecologista «Os Verdes» o convite para participarmos neste debate sobre as Politicas do Mar.
Cumprimentar, também, todos os que me acompanham neste painel de discussão.
A ligação de Portugal ao mar é histórica, um passado que nos engrandece e que nos permitiu “dar mundos ao mundo”. O acto corajoso de entrar numa casca de nozes e procurar saber o que existia para além da linha do horizonte, enche-nos a todos de orgulho. No entanto, algo se perdeu depois destas corajosas e heróicas conquistas e o país foi mantendo-se ligado ao mar de forma mais rotineira e tradicional. O mar é nos nossos dias o “ganha pão” de muitas familias que vivem nas zonas costeiras. O mar é um local de eleição para os portugueses de momentos de lazer e de descanso.
Nos últimos anos, com uma crise que afectou todo o país foi-nos relembrado que temos todo um oceano ao longo do nosso território que nos pode ser útil para levantar a nossa economia. E assim parece que entramos num processo de reconhecimento do mesmo como um campo novo de trabalho. Esquecemos, ou fazemos por esquecer que no passado alguns governantes deste belo país plantado à beira mar, “pagou” para que se destruissem frotas marítimas e para que se deixasse o mar para trás das costas, recorrendo a ele apenas no Verão para uns mergulhos que nos renovam as energias e a visão dos nossos actuais governantes continua a ser apenas e só do turísmo como tábua de salvação.
Hoje somos confrontados com as imensas possibilidades económicas que o mar nos dá. Se por um lado podemos recorrer às nossas águas para aplicar a inovação como as energias limpas, por outro é nos sugerido que olhemos para elas como forma de empreender.
O espaço marítimo português tem imensas potencialidades, as pescas, o transporte marítimo, o turísmo, o desporto e a investigação. “Renasce” a ideia de que redescobrir ou descobrir o Oceano e explorar os seus recursos pode encaminhar-nos para uma perspectiva de sucesso económico consistente e de grande valor. Que tanto necessitamos.
Contudo, existem questões, com as quais os nossos antepassados não se confrontaram ou não tinham consciência, tais como, as questões de poluição (provocadas pelo próprio Homem), questões de protecção e respeito ambiental, questões, tão importantes, como as alterações climáticas, questões sociais e culturais das populações costeiras que devem ser respeitadas, questões mais abrangentes como o facto de pretencermos a uma comunidade europeia.
Daí a importância destes debates para que possamos pensar e discutir qual o melhor caminho a seguir, minimizando os erros que possam ocorrer. Discutir com investigadores da área, políticos, ambientalistas e todos aqueles que conhecem o mar pela ligação profissional.
O Partido Ecologista «Os Verdes» tem uma visão politica acerca destas questões, porque o Homem deve integrar-se de forma equilibrada na natureza fazendo parte da mesma e não pretender ser dono dela.
Antes demais repensar a forma como se permitem construções urbanas nas zonas costeiras, sem qualquer preocupação com as questões da erosão, das cheias, da protecção das dunas, entre outras.
Procurar soluções para minimizar a poluição do nosso mar, quando abordamos esta questão rapidamente nos recordamos dos grandes desastres ambientais como o Prestige que se afundou ao largo da costa Galega no final de 2002, que provocou enormes perdas económicas ao poluir mais de 100 praias em França e Espanha e destruiu completamente a indústria pesqueira local.
E assim, chocados com imagens de águas negras e animais marítimos cobertos da mesma cor, nos esquecemos que os esgotos domésticos, as descargas industriais, a exploração mineira, os pesticidas da agricultura e as descargas radioactivas também são despejadas no mar. Substâncias quimicas que rapidamente entram na nossa cadeia alimentar, através do peixe que culturalmente tanto gostamos de consumir. Urge encontrar soluções para minimizar o impacto da actividade humana nos mares e nas costas sem por em causa toda a actividade social e cultural associada.
Nas profundezas do oceano coexistem entre 500.000 e 5.000.000 espécies marinhas que ainda nos são desconhecidas. Muitas delas encontram-se em grave risco de serem destruídas com o recurso à pesca de arrasto. Será, portanto, importante reflectir acerca deste método de pesca que para além de recolher a espécie procurada acaba por trazer à rede outras espécies e dizimar o fundo marinho ainda por descobrir.
A sobrepesca é vista por muitos cientistas marinhos como a ameaça individual aos ecossistemas marinhos. Muitas vezes a indústria pesqueira usa os recursos piscícolas sem avaliar o impacto dessa pesca. Rapidamente se excede a capacidade da natureza em repor o peixe. Os grandes navios estão capacitados para localizarem os cardumes com precisão, de modo rápido e exacto. O facto de adorarmos comer peixe e de sobretudo consumirmos de forma recorrente as mesmas espécies de peixes, não pode ser argumento para provocar alterações desastrosas na renovação dos mesmos. O mercado não pode impor-se ao equilibrio necessário e desejável das diferentes espécies. O Homem na posição de predador é o primeiro responsável por assegurar o equilibrio e a sustentabilidade do meio onde se insere.
Quanto à Aquacultura a ideia de maximizar o lucro não pode ser a justificação para a sua massificação. Como qualquer outra área a questão do mercado do peixe não pode ser visto apenas numa perspectiva de mercado comercial, existem formas de pensar diferente é por isso que estamos aqui hoje a discutir novos paradigmas, novas ideias. É necessário repensar como o Homem explora os meios naturais, temos de uma vez por todas, que deixar de relegar para segundo plano as questões pelo respeito do ecossistema e pela sustentabilidade do meio, que infelizmente se acentua em períodos de crise. Só como exemplo uma cultura não natural de salmão com 200.000 peixes produz aproximadamente a mesma quantidade de matéria fecal que uma cidade com 62.000 habitantes.
O que também constitui o caminho para o aquecimento global que afecta directa e inderectamente os nossos mares. Nomeadamente, o aumento da temperatura das águas do mar que inclusivé pode influênciar as rotas migratórias de certas espécies e provocar o aumento do nível da água do mar e as respectivas cheias que acabamos por sentir de forma mais visivel.
Deixo assim o meu contributo na esperança de enriquecer a discussão de hoje. Possibilitar a capacidade de Portugal ser interventor directo nas suas politicas do mar para que as negociações inevitáveis a nível europeu possam ser mais ricas e conscientes das nossas capacidades e do respeito pela nossa cultura.
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