Gostaria em nome do Partido Ecologista “Os Verdes” e do seu colectivo regional do Porto, de começar por agradecer a todos aqueles que aceitaram o nosso repto de estarem aqui presentes nesta Tertúlia sobre o Papel do Caminho-de-Ferro no desenvolvimento da região do grande Porto.

Não sendo especialista na matéria, permitam-me que tente fazer muito rapidamente uma resenha cronológica do aparecimento da ferrovia na nossa região:
Nos finais de 1844, foi criada a Fundação da Companhia das Obras Públicas de Portugal, que tinha como um dos objectivos a elaboração de estudos para a construção do Caminho-de-ferro em Portugal;
Em 28 de Outubro de 1856 é assim inaugurado oficialmente do Caminho-de-ferro e que correspondia a um troço entre Lisboa e o Carregado;
O início da circulação ferroviária a Norte do Douro, deu-se com a ligação entre Campanhã e Braga em 1875, data em que teve início a construção da Ponte Eiffel sobre o Douro;
A inauguração da Ponte Maria Pia teve lugar em 1877, tornando assim possível pela primeira vez a ligação ferroviária entre Lisboa e Porto – através da chamada Linha do Norte;
Em 1893 dá-se abertura á exploração pública do - Ramal de Leixões – que fazia a ligação entre Senhora da Hora e Leixões. Hoje o Metro do Porto utiliza parte este antigo traçado;
Em 1896 dá-se a inauguração da Linha Urbana do Porto – Campanhã e Porto/S. Bento, mas só no início do século XX, em 1916 é que será inaugurada a Estação de S. Bento que nasceu no local onde existiu o convento de São Bento de Ave-Maria (daí o nome com que a estação foi baptizada, da autoria Arq. José Marques da Silva, na qual o átrio de entrada se encontra revestido por painéis de azulejos do pintor Jorge Colaço);

Em 1903 é decidida a construção, por conta do Estado, da linha-férrea Régua-Barca d’Alva à fronteira;
Em 1921 a abertura à exploração do troço entre Tâmega e Chaves e a conclusão da Linha do Corgo - entre a Régua e Vila Real;
Em 1938 dá-se a abertura à exploração pública do troço entre Bifurcação da Boavista e Porto-Trindade, a conclusão da Linha do Sabor, o comboio chega a Duas Igrejas-Miranda (Linha do Douro) e é concluída a Linha de Guimarães;
A viagem inaugural do comboio “foguete” (material FIAT) entre Lisboa e o Porto ocorre em 1953 e a electrificação desta chega no final de 1966;
Em 1962 dá-se a supressão da linha Srª Hora/Matosinhos e o encerramento da Estação Porto/S. Bento ao tráfego de mercadorias em 1972;
O serviço Alfa (Lisboa-Porto, 1987) e Intercidades (1988) tem início nos finais dos anos 80 e é também aqui que tem início o encerramento de uma conjunto muito grande de linhas férreas:
1989 é suspenso o tráfego na Linha do Sabor, o troço Pocinho – Barca de Alva na Linha do Douro;
Um ano mais tarde dá-se a supressão do tráfego ferroviário de mercadorias e passageiros, nas ligações de: Valença-Monção na Linha do Minho, Amarante–Arco de Baúlhe na Linha do Tâmega e Vila Real-Chaves na Linha do Corgo; Em 1992 é suspenso o serviço ferroviário entre Mirandela e Bragança;
Em 1991 é aprovado o Plano de Modernização para a Linha do Norte e em 1993 é assinado o contrato para a duplicação da via entre Ermesinde e Valongo na Linha do Douro;
A nova travessia férrea do Douro (Ponte São João) surge em 1991, o início da exploração do Transibérico – ligação de mercadorias entre Leixões/Lisboa/Barcelona em 1993, altura em que também é lançado o passe combinado CP/Carris e a criação do passe combinado CP/Metro;
Em 2002 dá-se o encerramento da Linha da Povoa do Varzim e que foi depois substituída pelo metro de superfície, em 2004 é reaberta a linha de Guimarães após obras de modernização e electrificação;
Encontrando-se desde Março suspenso o serviço de comboios entre Régua – Vila Real e Livração – Amarante, sendo assegurado transporte rodoviário alternativo.

É por isso que ao analisarmos um pouco evolução dos caminho-de-ferro e a história dos dois últimos séculos do desenvolvimento do Porto e de toda a região norte do país, verificamos que o aparecimento do caminho-de-ferro, marcou seguramente uma transformação no desenvolvimento económico e social desta região, nomeadamente ao permitir a deslocação de um enorme fluxo de trabalhadores das regiões mais interiores do país para o Porto, esta disponibilidade de mão-de-obra fez com que por sua vez estivessem também criadas as condições para o aparecimento de novas fábricas e o desenvolvimento do sector industrial da região,
é também por isso que o Porto é conhecido como a cidade do trabalho e se tornou nessa altura o principal centro de comércio de toda a região do norte.
Hoje muito mudou, a cidade transformou-se e o sector terciário ganhou o seu espaço no tecido económico da região, com a progressiva deslocalização e encerramento de diversas unidades industriais do Grande Porto,
ao mesmo tempo o encerramento das linhas isolaram pessoas, aldeias e contribuíram para o definhamento económico e a desertificação da região

Esta não é a primeira vez que os Verdes promovem aqui na região acções em defesa e promoção da ferrovia:
Foi daqui do Porto que em 2006, partiu a caravana da iniciativa “Pelo Comboio é que vamos” que percorreu durante uma semana as linhas do Douro, do Corgo, do Tua e do Tâmega;
E também foi aqui que em 2007, organizamos na Faculdade de Psicologia e Ciências da Educação, o Fórum Internacional em Defesa do Transporte Ferroviário Convencional.

Esta é por tanto mais uma iniciativa que levamos a cabo sobre esta temática (e não será seguramente a última),pois entendemos que a mobilidade é um hoje um DIREITO fundamental que assiste a cada um de nós, a mobilidade é um direito à liberdade, à liberdade de circulação, um direito à não estratificação social e que por isso, tem que estar assegurado publicamente, um direito que é em si mesmo é um garante a outros direitos básicos, a serviços fundamentais, como sejam eles o acesso à educação, à saúde, ao local de trabalho.
Para nós Verdes a ferrovia é o melhor meio de transporte para responder a muitas das questões do direito à mobilidade que hoje se nos colocam,
mas também porque a ferrovia é um meio de transporte seguro com enormes vantagens do ponto de vista ambiental, energético, de promoção da coesão territorial e social do país,
quando comparado com o transporte rodoviário ou aéreo, com elevados impactos do ponto de vista ambiental, com a emissão de gases de efeito estufa, o uso de energia fóssil, os níveis de eficiência energética que apresentam.

Para nós Verdes a promoção, revitalização e modernização da ferrovia, como forma de transporte prioritário de passageiros e mercadorias, representa hoje uma questão prioritária e central para um desenvolvimento sustentado do nosso país.
A rede ferroviária nacional deve ser um pilar fundamental do sistema nacional de transportes públicos de passageiros e de mercadorias,
com preços socialmente justos, a generalização do passe social, com a intermodalidade, a simplificação na bilhética e horários compatíveis com as necessidades reais das populações.