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23/03/2015
Ato público da CDU - Intervenção de Heloísa Apolónia

Edifício Vitória, Lisboa

23 de março de 2015

 

Em nome do Partido Ecologista Os Verdes saúdo todos os presentes neste ato público da CDU e dirijo também uma saudação especial ao Partido Comunista Português e à Intervenção Democrática.

Amigos e amigas, ganhamos agora, a partir da constituição da CDU para as próximas eleições legislativas, uma responsabilidade de trilhar um caminho conjunto de esclarecimento sobre a situação do país, sobre aqueles que têm culpa nesta situação e sobre a viabilidade de um rumo alternativo, que muitos querem calar, mas que nós temos que afirmar, porque o país precisa desta alternativa de esquerda.

Aqueles que são hoje maioria parlamentar e Governo (PSD/CDS) vão usar muitas mistificações, vão deturpar muito do que fizeram e das razões por que o fizeram e vão enganar muito sobre os resultados atingidos. Terão muitos meios ao seu dispor para passar a sua mensagem, terão um número considerável de porta-vozes nas televisões, nas rádios e nos jornais. Usarão a ilusão, e também algumas medidas eleitoralistas, para tentar reconquistar o poder.

A nós, CDU, compete-nos, pela seriedade que temos, dizer a verdade e relembrar factos relevantes, para que o esquecimento não gere vantagens para aqueles que sacrificaram este país e este povo. Não teremos inaceitavelmente os mesmos meios para passar a mensagem, mas temos connosco a força da dedicação à verdade e à construção de uma alternativa política.

Lembram-se que começámos esta legislatura, sozinhos, a defender que temos uma dívida insustentável e que é preciso renegociar a dívida? Termina a legislatura com muitos outros a, finalmente, perceberem que esse passo é crucial, e que sem ele não temos condições para um necessário crescimento económico à dimensão da criação sustentável de emprego.

Lembram-se que fomos autores de pedidos de fiscalização da constitucionalidade de Orçamentos de Estado, porque aquele que jurou cumprir e fazer cumprir a Constituição, o Presidente da República, os deixava passar, em claro resguardo de um Governo que sempre insistiu em proteger? Pois demos um contributo decisivo para que no meio da insistência nos mais ferozes ataques que o Governo fez ao povo do seu país, se criassem algumas folgas que imediatamente se faziam refletir na economia, provando que o erro mais crasso era aquele que denunciávamos – que cortar no rendimento das famílias era o pior que se podia fazer à dinamização da economia o que, por seu turno, geraria desemprego.

São apenas dois exemplos, entre outros que aqui poderíamos detalhar, que demonstram que a CDU se pauta por um evidente realismo e pela razão do sucesso do seu povo.

O PSD e o CDS, esses, que chegaram ao Governo com base na mentira, usaram a austeridade em benefício da sua ideologia – ao povo sempre alegaram que não tinham dinheiro, mas para os grandes grupos económicos nunca faltaram recursos financeiros disponibilizados diretamente pelo Governo – prova disso foi a redução do IRC para as grandes empresas, com apoio do PS, enquanto o povo continuava a asfixiar com os brutais impostos que o Governo teimosamente não baixou.

Poderemos nós, na CDU, alguma vez admitir que a pobreza que generalizaram ao povo português é condição de sobrevivência de um país? Podemos nós, CDU, alguma vez aceitar que o martírio do povo é o sucesso do seu país? Podemos nós, alguma vez, admitir que a Ministra das Finanças demonstre que os cofres do Estado estão cheios da pobreza instituída ao povo português? Podemos nós admitir que os cofres do Estado estejam cheios e que o Governo não pague o que deve às famílias portuguesas? Mais do que vergonha, o que se pede é que esta política maquiavélica e bafienta acabe de vez!

PSD e CDS chegaram ao poder a apregoar as mais descaradas mentiras (que tinham as contas muito bem feitas e que sabiam que não era necessário cortar salários, nem aumentar os impostos). Saem do poder a apregoar vergonhosas ilusões (criam estágios como se estivessem a criar emprego, baixando artificialmente os números do desemprego; geraram a maior onda de emigração, como não se via há meio século – foram mais de 300 mil - e agora criam um programa de regresso de emigrantes para apoiar 30 projetos de empreendedorismo – um programa destinado a apoiar cerca de 0,0001% daqueles que obrigaram a sair do país).

Antes de chegarem ao Governo afirmaram que não defendiam a privatização da água. Depois de estarem no Governo, numa fúria privatizadora de setores estratégicos para o país, anunciaram a privatização da Águas de Portugal. Dando depois o dito por não dito, a verdade é que não tiveram tempo para a concretizar, e fizeram «apenas» uma reestruturação do setor da água para escancararem mais a porta ao apetite voraz do setor privado. A intenção tornou-se por de mais evidente quando, perante um projeto de lei dos Verdes que visava tão só introduzir o princípio da não privatização da água na lei-quadro da água, rejeitaram que esse compromisso ficasse estabelecido na lei. E mais – o PS rejeitou também essa proposta do PEV!

Estes são apenas alguns exemplos que demonstram o profundo esclarecimento que nós, CDU, temos que fazer, a imensa dedicação que temos que empreender para tornar claro que estas políticas são mentirosas, manhosas e destruidoras de um rumo sustentável para Portugal. Nós, CDU, temos um projeto de políticas alternativas que põem o bem-estar do povo a ditar o que é preciso fazer.

Estivemos sempre, sempre com aqueles que saíram à rua para se oporem a políticas de empobrecimento e de desgaste económico. Estivemos sempre com aqueles que se escandalizaram quando viam o dinheiro deste país a ser canalizado para os grandes interesses económicos e para os brutais juros da dívida. Sabem todos que as forças que integram a CDU estiveram sempre do seu lado. É justo pedir-lhes, então, que não se deixem enganar pelas ilusões que aqueles que se têm alternado no poder vão usar e das quais vão abusar. É justo pedir ao povo deste país que confirme a coerência, a verdade, a lealdade pelas quais se tem pautado a CDU e que confie nesta força para dignificar este país.

Nós, que temos caminhado juntos na CDU, que sabemos que temos diferenças que resultam naturalmente de sermos partidos diferentes, sabemos encontrar-nos nas convergências e fazer delas a força da capacidade de construir um projeto alternativo e necessário para o país – e sabemos encontrar-nos nas convergências porque o que nos move é o interesse do povo e a convicção de que nós constituímos a esquerda necessária para forçar uma mudança e para quebrar um ciclo de alternância política entre o PSD, CDS e PS que já provou que não nos leva a bom porto.

Na CDU usamos o trabalho, a honestidade e a competência como instrumentos das nossas políticas, para gerar desenvolvimento… e sabemos que não há desenvolvimento que se construa prejudicando o povo. A força da razão, da sensibilidade e da lealdade, do trabalho pelo benefício coletivo são o que de mais genuíno a CDU tem para dar a este país.

A nós, a todos nós, compete-nos contribuir para reforçar este projeto, chamando mais homens e mulheres à intervenção, para que juntos construamos a força da Coligação Democrática Unitária e, com ela, o melhor caminho para Portugal.

Viva a CDU

Intervenção de Jerónimo de Sousa (PCP)
Intervenção de João Fonseca (ID)

 

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