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Intervenções Públicas
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25/04/2014
Intervenção de Mariana Silva na Sessão Solene do 25 de Abril da Assembleia Municipal de Guimarães

Grupo Municipal da CDU
Mandato de 2013 a 2017

Ex.mo sr Presidente da Assembleia Municipal
Ex.mo sr. Presidente de Câmara
Ex.mo srs. Vereadores
Senhores Deputados
Comunicação Social
Minhas senhoras e meus senhores,

“Pobrezinhos mas limpinhos!!!”

Portugal cresceu quando ninguém acreditava que de um pequeno condado se podia formar uma Nação. D. Afonso Henriques, o nosso primeiro rei, deu-nos a honra de que o nascimento de um grande povo se desse na cidade de Guimarães. Tréguas com os vizinhos, sem terras para conquistar esse povo herdeiro do sangue conquistador, entra numa casca de noz e enfrenta o temeroso e desconhecido mar. Entre muitos naufrágios, muitas derrotas, muitas tentativas, este pequeno país que encabeça a Europa dá “ novos mundos ao mundo”.
Poderia nomear muitos momentos de energia coletiva e criadora dignos de serem referênciados, no entanto, na nossa História recente, a grande luta que ficou e ficará para as gerações futuras, a par das que descrevi, será a Revolução de 25 de Abril de 1974.

Vivia-se um tempo de repressão, de opressão, de pobreza, de “apagada e vil tristeza” e onde a liberdade era palavra proibida. Vivia-se um tempo de obscurantismo em que a esperança não tinha lugar em todos os corações, mas Abril veio mudar o rumo de um país cabisbaixo onde o “medo levava tudo”, e demonstrar que mesmo quando tudo parece negro e sem solução existe sempre alguém que não baixa os braços e que diz “Basta!!!”.
“Pobrezinhos mas limpinhos!!”, dizia eu, sem um olhar virado para a imensidão do mar, sem um olhar para a imensidão da beleza e das potencialidades das nossas “jóias” naturais que são destruídas, em nome da satisfação dos mercados.
“Pobrezinhos mas limpinhos!!” sem um olhar de futuro no que diz respeito à educação, quando fecham escolas e obrigam as crianças a andarem mais de 60km por dia até à escola mais próxima, quando se aumenta o número de alunos por turma prejudicando a sua aprendizagem, apenas para não se ter a despesa de mais meia dúzia de professores ou então quando o estado investe nos estudantes do ensino superior e depois os convida a partirem para outros países onde serão certamente uma mais valia para o desenvolvimento económico desse país, para a subida da taxa da natalidade deixando Portugal mais pobre, menos desenvolvido económicamente e completamente envelhecido.

“Pobrezinhos mas limpinhos!!” quando aceitamos todas as normas impostas pela União Europeia que obedece apenas a uma lógica de mercado, em que os países pobres devem comprar aos países ricos para assim alimentarem a sua economia. Quando somos impedidos de crescer pelos nossos próprios meios, aproveitando a nossa agricultura, o nosso mar, as nossas belezas naturais, o nosso excelente clima para a produção de energias renováveis.

No entanto, neste dia em que festejamos 40 anos de Abril, 40 anos de liberdade e democracia, percebemos que o dia é de festa, sem dúvida, mas também e sobretudo de resistência e luta. É que o derrubamento da ditadura não foi obra do acaso. Nem resultou, como por vezes pretendem fazer-nos crer, da acção isolada de um grupo de militares. Os heróicos capitães de Abril, é certo, foram fundamentais para pôr fim à ditadura, desferindo-lhe o golpe final. Mas tiveram atrás de si décadas e décadas de resistência e luta dos trabalhadores e do povo (de onde, aliás, provinham), que abriram brechas na poderosa muralha autoritária, enfraquecendo-a e provocando o seu isolamento e desagregação.

O dia de hoje é portanto de memória ativa, é o dia para nos lembrarmos que o “Basta!!” gritado a 25 de Abril de 1974 merece e deve ser gritado hoje. Pois, como escreveu Brecht:

 “Nada é impossível de mudar
 (…) não aceiteis o que é de hábito como coisa natural,
 pois em tempo de desordem sangrenta,
 de confusão organizada,
de arbitrariedade consciente,
de humanidade desumanizada,
 nada deve parecer natural” nada é impossível de mudar.

Hoje é pois dia de relembrar que não podemos permitir que nos retirem os direitos árdua e justamente conquistados durante estes anos, o direito à saúde, à educação, à cidadania, à justiça, à habitação condigna, ao emprego, à revolta, à indignação.

Permitam-me que termine com as palavras do poeta Manuel Gusmão, quando diz “De há uns tempos para cá, vozes muito dissemelhantes parecem insinuar, se não explicitamente afirmar, que não há futuro para ninguém ou que vivemos tempos em que ninguém se arrisca (…).”
Conheceríamos uma era em que teríamos já desistido ou teríamos de desistir de tentar imaginar ou desejar um rosto para o futuro. (…) E contudo se não houver futuro, se não tivermos futuro, seremos como dizia um dos nossos grandes poetas, "cadáveres adiados que procriam". (…) Ora nós precisamos do futuro, tudo se transforma. Transforma-se o mundo em nós e fora de nós. E da mudança dos tempos e das vontades, nós participamos. Caminhámos como agentes procurando o máximo de consciência possível, estendendo as mãos e tacteando os possíveis; fazendo de acordo com os tempos a vinda de um outro tempo. Não somos adivinhos, nem sabemos rigorosamente prever qual será o rosto do futuro, mas isso não nos impede de o desejar. O carácter profundamente transformador do trabalho humano, o facto de uma criança de dois anos ser capaz de produzir uma frase que nunca ouviu, o facto de a poesia reinventar a língua em que se escreve, o facto de as artes serem construções antropológicas e de os humanos se configurarem e reconfigurarem, são fundamentos suficientes para que nos possamos, sem mais garantias, prometer um futuro. Porque nós habitamos o mundo, e o mundo é a nossa tarefa.”

Minhas senhoras e meus senhores,

Nenhuma revolução é a primeira, nem a última… por isso podemos continuar a acreditar que existe uma solução para a crise que Portugal atravessa nos nossos dias, como também surgiu no dia 25 de Abril de 1974.

25 de Abril SEMPRE!!!
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