Intervenção de Inês Proença

Apresentação dos Candidatos à Câmara Municipal e Assembleia Municipal de Cascais e do Programa CDU 26.06.2005

Na apresentação pública dos candidatos e do projecto da CDU para o Concelho de Cascais para as autárquicas 2005, gostaria, em primeiro lugar, e em nome do Partido Ecologista "Os Verdes", de saudar todos vós que, como cidadãos independentes, membros da Intervenção Democrática e membros do Partido Comunista Português dão, com a vossa intervenção individual, sentido e voz a este projecto colectivo, a esta coligação, que é a CDU.

Fui convidada, como membro do partido ecologista os verdes para intervir nesta iniciativa e por isto pensei ser esta a altura exacta para vos falar e sensibilizar para alguns dos problemas mais gritantes no concelho de Cascais, e que muito nos preocupa, a nós verdes e ecologistas.

Ora, todos nós e principalmente, os cidadãos mais atentos, compreenderão que, hoje em dia, no concelho de Cascais, nos deparamos com graves, ou melhor, gravíssimos problemas de ordem ambiental. Um dos problemas mais graves com que se depara este concelho relaciona-se com a questão dos lixos.

Caros Amigos,

Gostaria de vos convidar a fazer um pequeno passeio pela natureza. Poderemos começar por efectuar um passeio ao Parque Natural Sintra/Cascais, num destes belos dias de sol e vão ver que, por muito bela que seja a paisagem, a única coisa que irão acabar por sentir é uma sensação desoladora. Há lixo espalhado por toda a natureza, lixo doméstico, garrafas, pneus, roupas velhas, bidões de óleo industrial e de carros e essencialmente, entulho de obras. Continuamente vão sendo depositados na área do Parque Natural e não só, lixos e toda a espécie de resíduos perigosíssimos que se vão incrustando na terra, contaminando os solos e por sua vez os lençóis freáticos, que mais tarde ou mais cedo, irão afectar negativamente e de uma forma irreversível todo o nosso ecossistema.

Será que é isto que os nossos responsáveis entendem por preservação do Parque Natural Sintra/Cascais?

Falo do Parque Natural porque tem como obrigação ser uma zona protegida e respeitada por todos.

Caros Amigos,

Igualmente não podemos esquecer os problemas gravíssimos que temos noutras áreas do Concelho, estou a lembrar-me, por exemplo, da polémica questão do aterro de Trajouce, que ainda hoje está por resolver; os vazamentos ilegais de lixos e esgotos para as ribeiras e muitas questões graves ambientais que colocam em risco, a salubridade das nossas águas e a saúde e integridade dos nossos solos.

Outro problema a que nos parece urgente deitar as mãos, antes de mais, prende-se com a questão da qualidade do ar que respiramos nas estradas do nosso concelho. Se não fosse o nosso Concelho premiado com ventos e brisas que nos chegam através da serra e através do mar e que dissipam as concentrações de gazes nocivos na atmosfera, estaríamos numa autentica câmara de gás ao ar livre.

Temos vindo a testemunhar que, a par de uma construção que cresce como cogumelos e que se implanta desregradamente e sem qualquer planeamento, cresce também desenfreadamente o tráfego automóvel. De alguns anos para cá as nossas estradas vêm sendo invadidas por toda a espécie de tráfego e é, de alguma maneira óbvio, que muitas destas infra estruturas não foram pensadas para dar vazão ao trânsito que já se faz sentir. Exemplo disto são as filas intermináveis que sucedem dia após dia, nas áreas de acesso aos centros urbanos e que vão, lentamente mas de forma eficiente, matando a qualidade de vida dos munícipes e a qualidade do ar que respiram. É preciso ter consciência de que o concelho de Cascais, relativamente aos estudos de qualidade do ar que têm vindo a ser apresentados, revelam dados bastante preocupantes.

Uma futura gestão autárquica terá necessariamente de apostar num plano de mobilidade. A gestão camarária deverá chamar a si a responsabilidade por um planeamento de fundo e estrutural que combine a utilização do transporte colectivo com bons interfaces; ciclovias com ligação entre si e que poderão ser de utilidade, não só para bicicletas mas também, para as sempre esquecidas, cadeiras de rodas e caminhos pedonais.

Outra questão importantíssima, esta agora, já mais polémica, porque mexe com interesses económicos privados e de gestão camarária, prende-se com o excesso de construção.

Todos os cidadãos estão conscientes de que o concelho de Cascais tem sido absolutamente levado a reboque pelos interesses imobiliários. É um concelho que pela sua beleza natural e situação geográfica (perto do mar e a 30minutos da capital) é extremamente vulnerável a interesses económicos privados. Ora, é nesta vulnerabilidade, que se faz muito à custa da incapacidade e falta de rigor dos nossos autarcas, que vimos emergir verdadeiros atentados ambientais e também urbanísticos.

Estragou-se o espaço urbano e natural; um espaço que se queria aprazível, já não o é!!! Construi-se em demasia sobre o litoral, provocando um enorme adensamento na malha urbana. Para que saibam, a maior parte dos habitantes do concelho vivem precisamente situados na faixa do litoral.

Esta construção não foi pensada e dimensionada com as respectivas infra estruturas que deviriam acarretar, muitas construções foram feitas sem ter em linha de conta, por exemplo, o volume de esgotos que lhes iria corresponder. Poderemos pois imaginar os problemas que tudo isto acarreta?

Estes interesses privados, consentidos e apadrinhados por quem tem responsabilidade directa na gestão dos órgãos autárquicos, foram conseguindo também, algumas outras proezas verdadeiramente recambulescas, outra coisa não podemos chamar por exemplo, às construções do abano, às construções em plenas dunas, aos campos de golfe em plena duna fóssil, às construções junto a linhas de água enfim… a lista poderia ser insuportavelmente extensa e não quero estar a tomar o vosso tempo.

Caros amigos encontramo-nos perante um impasse. O concelho tem crescido desajustadamente, com assimetrias graves, que arrastam consigo problemas sociais, ambientais e urbanísticos, gravíssimos. Todo este caminho que vem sendo percorrido, nós já o conhecemos, e sabemos de antemão que ele não nos dirige a bom porto. É hora de mudar!

Enquanto ecologistas acreditamos que é preciso arrepiar caminho.

Construir um futuro fundado em valores consentâneos com uma nova forma de estar em comunidade e adequados às exigências dos cidadãos.

Estamos aqui e agora para despertar a vossa inquietação para estas problemáticas e simultaneamente para vos deixar uma mensagem de esperança num desenvolvimento sustentável do ponto de vista económico, ambiental, social e Urbanístico. Ambicionamos um concelho próspero, cujos agentes económicas concertados entre si, apostem na criação de empregos. Apostem num turismo de qualidade, amigo do ambiente que vá ao encontro do que resta da nossa ruralidade e da nossa identidade.

Defendemos um, cada vez mais forte, exercício da democracia nas políticas autárquicas; é necessário que os cidadãos tenham voz, conheçam e façam valer os seus direitos e possam manifestar as suas preocupações nos destinos de um concelho, cujo dia a dia, conhecem de perto. Já estamos fartos de ver os nossos domínios públicos, as nossas reservas naturais e agrícolas, as nossas águas, serem colocadas à mercê de grupos de interesses cujas intenções, muitas vezes não são claras.

Defendemos um concelho que cuide e preserve as áreas verdes e florestais e que não abra mão delas, porque estes espaços são de todos; é preciso classificar e proteger as nossas ribeiras, os trilhos ecológicas, as nossas áreas protegidas que vão sendo consumidas quer pelos fogos quer pela betonização. Natureza também é qualidade de vida caros amigos! .

De que nos serve ter carros de grande marca, dinheiro no banco, status e outras coisas mais, se depois vivemos num local árido, mal tratado e poluído das mais diversas formas., num local sem característica, num local onde já não encontramos nada de nós, das nossas raízes e onde já não é agradável viver.

Nós do Partido Ecologista «Os Verdes» faremos sempre, da qualidade de vida dos cidadãos, a nossa prioridade!

VIVA A CDU