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Intervenções na AR (escritas)
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18/06/2020
Debate sobre Agricultura Intensiva – DAR-I-062/1ª

Sr. Presidente, Sr.as e Srs. Deputados: Portugal produz dos melhores azeites do mundo, mas o olival tradicional, onde isso acontece, foi substituído ou está ameaçado pelo olival intensivo e superintensivo, …

… que visa aumentar substancialmente a quantidade de azeite a produzir. Este está a alastrar-se em larga escala, sobretudo na região do Alentejo.

Ocorre que os impactos do olival intensivo e, sobretudo, do superintensivo, com compassos até 2000 árvores por hectare, são muito significativos a diversos níveis. Desde logo, em termos de gasto de água. Numa altura em que o País necessita de medidas concretas para mitigar as alterações climáticas, como é possível permitir que o modelo de agricultura que está a ser implementado assente exatamente no oposto àquilo que é necessário, a nível do uso de água?

Há impactos também na saturação dos solos, sobretudo no Alentejo, onde os riscos de seca extrema estão demonstrados, havendo, consequentemente, o risco de desertificação e de empobrecimento dos solos. Estão a alastrar-se culturas que promovem o esgotamento dos solos e que, ao fim de 20, 25 anos, os deixam inaptos para a agricultura.

E ainda, pela utilização massiva de pesticidas, gera-se um nível de poluição muito significativo, havendo o risco de os seus efeitos se fazerem sentir, em termos de consequências patológicas, daqui a alguns anos. As populações queixam-se da degradação da qualidade do ar e temem estar a inalar os químicos, para além da contaminação de solos e de lençóis freáticos que ocorre, a partir da utilização desses químicos.

O que aqui se referiu sobre o olival estende-se a outras culturas permanentes superintensivas, como o amendoal, que estão a expandir-se numa área bastante alargada.

Os Verdes têm acompanhado o problema destas culturas permanentes, superintensivas, contestando o seu brutal crescimento e ouvindo atentamente as preocupações das populações. Para além do alerta e das denúncias necessárias, o PEV faz propostas no sentido de mitigar os efeitos deste problema, mas também no sentido de o reverter.

Por isso, apresentamos projetos na Assembleia da República que visam implementar, designadamente, as seguintes soluções: findar os apoios da PAC (Política Agrícola Comum) — primeiro e segundo pilares — às culturas intensivas e superintensivas; determinar a obrigatoriedade de respeitar um distanciamento mínimo de 300 m entre o extremo da cultura agrícola superintensiva e os núcleos habitacionais, de modo a minimizar os impactos das pulverizações, tomando-se claro partido pela valorização dos melhores padrões ambientais e pela garantia do bem-estar dos cidadãos; e proibir a apanha mecanizada de azeitona durante a noite, visto que investigadores portugueses estimam que 96 000 aves sejam afetadas, todos os anos, devido à intensidade das luzes e aos sistemas de sucção usados para a colheita noturna de azeitona.

Não basta anunciar estudos científicos sobre os impactos na avifauna ou o reforço de ações de fiscalização e sensibilização. É preciso uma ação mais determinada.

O Decreto-Lei n.º 140/99, que regulamenta a Diretiva Aves e a Diretiva Habitats, visa a manutenção da biodiversidade e a proteção de aves no estado selvagem. Mas a perda acentuada de biodiversidade é um problema global muito sério, que não tem conhecido políticas assertivas e eficazes para inverter a atual lógica de perda numa lógica de restabelecimento e preservação de biodiversidade.

Os Verdes consideram que a expansão das áreas destas culturas é um erro crasso, que se pagará caro no presente e num futuro próximo, especialmente num momento em que as alterações climáticas, com todas as suas consequências nefastas, nos exigem políticas responsáveis de adaptação, nas quais as políticas e práticas agrícolas têm um papel muito relevante a desempenhar.

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