|
27/06/2019 |
Intervenção de Mariana Silva |
|
Permitam-me antes de mais dirigir as minhas primeiras palavras, em nome do Partido Ecologista Os Verdes, para saudar todos os que fazem parte da Coligação Democrática Unitária. Uma saudação especial ao Partido Comunista Português, à Intervenção Democrática e aos muitos independentes que contribuem para que este grande espaço colectivo continue a lutar pelos direitos de quem trabalha, pela justiça social e pelo desenvolvimento sustentável.
Companheiros e amigos,
Cá estamos em mais uma campanha eleitoral, as legislativas, que com o contributo da CDU há quatro anos foi possível perceber que nestas eleições não elegemos o primeiro-ministro, mas sim os deputados que representarão e defenderão as regiões. Por isso, é necessário reforçarmos a eleição dos representantes da CDU para que possamos dar continuidade às lutas de devolução de direitos, da conquista de lutas tão antigas como o passe social que só foi possível porque o PS esteve de mãos atadas e só nesta situação politica foi possível avançar de forma no direito à mobilidade, ao transporte público a preços aceitáveis e ao caminho para o desenvolvimentos sustentável.
Nestes últimos quatro anos foi possível travar a plantação de eucaliptos, a contratação de guardas florestais, avançar nos direitos e protecção dos animais de estimação e selvagens, foi possível demonstrar que não há impossíveis e que as lutas, por muito que se estendam no tempo, se forem válidas nunca devem ser esquecidas.
Assim chegamos às Legislativas de 2019 com esperança, com a certeza que os direitos conquistados ao longo de 40 anos não são para sempre e por isso, é necessário mantermo-nos atentos na sua defesa. Sentimos todos na pele o retrocesso na legislatura em que PSD e CDS com o apoio do PS não se inibiram de retirar os subsídios de férias e natal por inteiro, quando não se inibiram de retirar feriados, quando não se inibiram de congelar carreiras e de aumentar as horas de trabalho das 35 horas para as 40 horas nos funcionários públicos.
Não podíamos mais andar para trás, em nome de uma dívida que tem que ser paga a todo o custo, mesmo que o país deixe o seu desenvolvimento para trás e que o povo português apenas consiga sobreviver.
Não podíamos andar para trás e a solução política encontrada foi o caminho tortuoso para que se garantisse que a água não era privatizada, que as nossas florestas seriam mais vigiadas, que o investimento nos manuais escolares passe a ser da responsabilidade do Governo, que o salário mínimo aumentasse.
Naquela noite eleitoral foi possível dizer Não, foi possível afirmar que o caminho para Portugal seria o de Avançar.
Companheiros e amigos,
Temos todos a responsabilidade de continuar a acreditar, acreditar que só é possível garantirmos melhores condições no serviço nacional de saúde, mais e melhor investimento para as escolas, mais investimento nos transportes públicos para que acompanhem a vontade dos portugueses de diminuírem a necessidade da exploração dos recursos naturais, para deixarem o automóvel individual para contribuírem para a descarbonização mas também para a sua qualidade de vida.
O país precisa de continuar a avançar na protecção da natureza, na protecção da biodiversidade, na despoluição dos rios, no direito à habitação a preços controlados, na contratação de mais profissionais de saúde, na reversão da privatização dos CTT e devolução dos seus balcões às populações, na restituição das freguesias e travar o processo de descentralização que apenas serve e servirá para desresponsabilizar o Governo das suas obrigações e para isolar mais as regiões do interior.
Infelizmente, não é apenas no interior que se sentem as dificuldades do fecho dos serviços públicos ou da sua má gestão. Também em Lisboa se sente a dificuldade da mobilidade por falta de transportes públicos com horários eficientes e em quantidade para satisfazer a procura. Também em Lisboa se sente a dificuldade do acesso à saúde com o fecho de hospitais e com a falta de contratação de médicos e enfermeiros. Em Lisboa a gentrificação faz-se sentir na subida do nível de vida, o preço das casas é incomportável para quem recebe o salário mínimo e trabalha na capital, para quem escolhe continuar os estudos e precisa de se deslocar. Um ano lectivo termina e em Setembro recomeça o desespero dos jovens que pretendem iniciar ou dar continuidade ao ensino superior.
Os compromissos dos Verdes com os lisboetas e com todos os portugueses passam obrigatoriamente pela conquista da justiça social para que possamos realmente atingir a justiça ambiental que cada vez se torna a preocupação central de todos. É urgente a mudança de políticas para que a mudança do clima não continue desta forma tão adiantada.
A luta ecologista, por um ambiente sadio e pela vivência em harmonia com a natureza, é uma luta de todos, que tem de ser assumida desde as mais tenras idades, contando com os adolescentes e jovens, como felizmente assistimos nos últimos meses, mas têm também que contar com os adultos e com os mais idosos, porque o compromisso da mitigação das Alterações Climáticas deve ser de todas as gerações.
Por isso, recusamos a luta em defesa do ambiente como parte integrante, como peça da divisão entre gerações, entre novos e velhos. Não podemos atribuir hoje as culpas da degradação do ambiente aos que, há 30, 40 ou 50 anos iam descalços para a escola, escreviam em ardósias e não sabiam o que era o desperdício alimentar.
A luta em defesa do Planeta ao qual chamamos “casa”, é a luta entre os que defendem modos de produção sustentáveis e os que exploram os recursos até à sua finitude para assegurar a apropriação da riqueza, sem se importarem com as consequências, para o ambiente, para os animais, para a vida dos homens e mulheres.
Recusamos, igualmente, a luta em defesa do ambiente como parte da contraposição entre os povos da Europa – que ao contrário do que nos querem vender, é um dos principais causadores da sua degradação – e os povos do Sul ou da Ásia ou de qualquer parte do Mundo. A questão é que, sem se responder às necessidades básicas das populações, estejam elas onde estiverem, teremos sempre a aceitação de acções que para nós são inaceitáveis.
Acompanhamos, valorizamos, saudamos, estamos presentes nas acções dos jovens na defesa do Ambiente. Mas, companheiros e amigos, não chegámos hoje à luta contra as Alterações Climáticas e pela mitigação dos seus efeitos, agora que alguns interesses decidiram dar-lhe visibilidade. Já cá estávamos quando se falava do aquecimento global, estamos cá há décadas a falar e alertar para as alterações climáticas, nos órgãos de poder nacional e local.
A acção em defesa do ambiente por uma vida sadia e em harmonia com a natureza é a alternativa que temos, a única, para que seja possível atingirmos as grandes transformações sociais para avançarmos num futuro justo, livre e ambientalmente equilibrado.
Nestas Eleições para a Assembleia da República vamos fazer o que sempre fizemos. Com mais empenhamento. Com mais determinação. Com mais entusiasmo.
Estamos consciente que não podemos determinar o que passa no jornal das oito da RTP, da TVI ou da SIC. Porém podemos determinar que falamos com 20, com 30 ou com 40 pessoas. E que ganhamos uma parte para a causa ecologista e para o voto na CDU.
O voto ecologista é na CDU!