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Intervenções na AR (escritas)
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30/10/2020
Sobre a tecnologia 5G- DAR-I-015/2ª

Sr. Presidente, Sr.as e Srs. Deputados: Falamos, hoje, da tecnologia 5G, um assunto de extrema importância, mas que ganha ainda maior relevância se tivermos em conta que em causa estão, nada mais nada menos, do que os direitos de utilização do espetro radioelétrico para as próximas duas décadas.

Ora, tratando-se de uma matéria que envolve 20 anos, é avisado ter presente não só que o espectro é do domínio público do Estado, mas também que o bom senso nos diz que se há alguma coisa de útil nos erros é aprendermos com eles para os evitar no futuro.

Por isso, seria bom — em nome do interesse público e também da necessidade de proteger os consumidores — que, antes de se tomar qualquer decisão, se fizesse uma leitura do que aconteceu para trás e um diagnóstico sobre a situação atual, exatamente para evitar que se cometam os erros que se cometeram no passado.

Assim, quando olhamos para trás, e para o 4G, o que sobressai, em primeiro lugar, são as deficiências que se foram arrastando no tempo. Referimo-nos, por exemplo, à partilha de infraestruturas entre os vários operadores, que não existe e que tem vindo a comprometer seriamente um desempenho aceitável do serviço. E, se olharmos para os níveis de cobertura em muitos concelhos do nosso País, sobretudo do interior, percebemos, sem grande esforço, que a cobertura é absolutamente deficiente e, muitas vezes, nem há cobertura. Isto já para não falar dos valores pagos, que são dos mais altos da Europa, ou da forma como as operadoras olham para os seus trabalhadores, deixando-os numa cruel e absoluta precariedade.

O motivo é simples e o do costume: as operadoras norteiam-se apenas pelos interesses dos seus acionistas, porque as necessidades das populações não têm qualquer relevância, e o Estado, por sua vez, finge que não vê e que nada se passa. E as populações, em vez de terem cobertura de rede, ficam, literalmente, a ver navios.

Ora, são exatamente estas falhas, estas deficiências que se devem evitar, agora com as tecnologias e o sistema 5G. Mas, a nosso ver, isso só é objetivamente possível através da recuperação de um serviço público e universal de telecomunicações, só é possível com a garantia do domínio público do espetro radioelétrico e com a gestão e exploração pública das redes.

Portanto, nesta fase, em vez de leilões, o que se impõe é que o Governo deite mãos à reconstrução de um operador público e de um serviço público de telecomunicações capaz de garantir uma oferta de qualidade e economicamente acessível nas comunicações. Impõe-se que se decida por um serviço universal de comunicações eletrónicas, tendo como propósitos a redução de preços e impõe-se que caminhe também no sentido de conseguir a cobertura total do território nacional.

É isto que, na perspetiva dos Verdes, se impõe, se o Governo estiver mesmo disposto a colocar o interesse público acima do interesse dos privados.

É isto que o Governo deverá fazer, se não quiser cair nos erros do passado, porque se nada aprendemos com os erros pouco por cá andaremos a fazer.

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