Pesquisa avançada
Início - Grupo Parlamentar - Atual Legislatura - Atividades - Intervenções na AR (escritas)
 
 
Intervenções na AR (escritas)
Partilhar

|

Imprimir página
20/11/2020
Sobre o Estado de Emergência - DAR-I-021/2ª
Sr. Presidente, Sr. Primeiro-Ministro, Srs. Membros do Governo, Sr.as e Srs. Deputados: Pode ainda ser cedo para perceber os eventuais contributos do atual estado de emergência, mas, depois de todos estes meses, continuamos sem identificar qualquer contributo substancial do estado de emergência da última primavera, para travar a propagação do vírus.
Sabemos bem que, face à gravidade da situação, é imperioso prosseguir e reforçar as medidas de contenção. Mas não confundamos o que não pode ser confundido, porque uma coisa são as medidas de contenção e outra, bem diferente, é o estado de emergência.
Recorde-se que, durante a primavera, as medidas mais importantes neste combate foram assumidas fora e à margem do estado de emergência, fosse o encerramento das escolas, fosse o confinamento voluntário dos portugueses.
A este propósito, aliás, um estudo de mobilidade, produzido antes da declaração do atual estado de emergência, indica, de forma muito clara, que os portugueses voltaram a ficar voluntariamente confinados em casa, a níveis registados em maio e sem necessidade de qualquer estado de emergência.
De resto, a nosso ver, não é o estado de emergência que permite ao Governo dar as respostas que se impõem. Por isso, Os Verdes votam contra a sua renovação.
De facto, para dotar o SNS de mais meios, de mais profissionais de saúde e de mais equipamentos, ou para reforçar a capacidade de resposta dos centros de saúde e dos hospitais, o Governo não precisa do estado de emergência para nada.
E se a sobrecarga está a incidir de forma desigual nos diferentes hospitais do País, também não é necessário o estado de emergência para fortalecer o transporte inter-hospitalar dos doentes críticos ou para reforçar o trabalho em rede entre os hospitais.
E o mesmo se diga relativamente ao reforço da proteção das condições de segurança nos locais de trabalho: o Governo pode e deve fazê-lo sem estado de emergência.
Para que o Governo crie as condições para que as pessoas possam efetivamente respeitar as regras, nos transportes públicos ou nas escolas, não é necessário nenhum estado de exceção.
Nos transportes públicos, sobretudo nas horas de ponta, as pessoas, mesmo querendo, não conseguem objetivamente respeitar as regras de distanciamento. Ora, exigir às pessoas o impossível é algo que nem o estado de emergência torna aceitável e, portanto, nem aqui o estado de emergência ajuda.
Exigir, por exemplo, que, nos barcos, a determinadas horas, as pessoas cumpram as regras de distanciamento só é possível se uma parte significativa das pessoas decidir ir a nado. Mas isso nem o estado de emergência torna aceitável.
Por fim, para que o Governo explique convenientemente às pessoas as medidas que vai assumindo, também não precisa do estado de emergência.
Tivemos um fim de semana, e temos outro pela frente, onde o Governo decidiu enxotar literalmente as pessoas todas para as compras, durante o período da manhã. Umas de manhã e outras à tarde? Não, vai tudo junto de manhã. Juntem-se, aglomerem-se, organizem-se, mas vai tudo de manhã.
Esta medida até pode ser importantíssima para reduzir o risco de contágio, mas, por mais que se estique a imaginação, as pessoas não compreendem como. Por isso, se é absolutamente determinante que todos levem as regras a sério, é preciso explicar os motivos que as norteiam.
E, se o Governo está à espera que o estado de emergência explique, bem pode esperar sentado, porque, com essa medida, a única coisa que os portugueses ficaram a saber foi que o encerramento do comércio às 13 horas, para além de ter juntado toda a gente nas compras durante a manhã, apenas representou mais um grande golpe, sobretudo no setor da restauração, que estava a procurar levantar-se e que acabou por levar mais um grande abanão que o colocou de novo no chão.
Uma nota final sobre o decreto que agora discutimos e que pretende dar a faculdade às autoridades públicas para utilizarem os recursos de prestação de cuidados de saúde do setor privado, mediante justa compensação: Os Verdes consideram absolutamente escandaloso e imoral que a pandemia possa servir para engordar os lucros dos grupos privados com interesses na área da saúde.
Portanto, fica o desafio: pelo menos neste período excecional, o Governo deve, em nome dessa justa compensação, procurar formas de, excecionalmente, fazer regressar ao Estado os lucros que os grupos privados da saúde obtiverem com esta pandemia e canalizá-los diretamente para o combate à pobreza e para os apoios sociais.
Haja moral e respeito neste combate, que é coletivo e que exige o esfoço de todos!
Com ou sem estado de emergência, é preciso dar oportunidade aos grupos privados da saúde de também participarem neste esforço, que tem de ser de todos. Convocá-los a dar o seu contributo, nem que para isso seja necessário nacionalizar os lucros pandémicos.
Seria, aliás, absolutamente inadmissível, para não dizer mórbido, que esta pandemia pudesse representar uma oportunidade de negócio para o setor privado da saúde.
Aguardemos pelo estado de coragem do Governo, nesta emergência de justiça elementar.
Voltar