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29/05/2009 |
Apresentação do Projecto-Lei sobre Contas Bancárias |
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Intervenção da Deputada Heloísa Apolónia – apresentação do projecto de lei n.o 658/X (4.ª) do PEV — Impõe limites à cobrança de despesas de manutenção de contas bancárias
Sr. Presidente, Sr.as e Srs. Deputados,
As pessoas já perceberam, neste momento, que o modelo em que vivemos está todo sustentado na prevalência das instituições financeiras. E as pessoas estão fartas desta prevalência das instituições financeiras, que tem, como reverso da medalha, o eterno prejuízo das pessoas, em concreto.
Ora, olhamos para os spreads exageradíssimos, para as margens de lucros dos bancos, e ficamos espantados.
Olhamos para o desplante que as instituições financeiras têm, designadamente numa altura de crise, ao estar permanentemente a incentivar os seus clientes aos créditos, e ficamos espantados.
Olhamos para as cobranças despropositadas de serviços, e ficamos espantados.
E mais espantados ficamos quando o Governo, numa altura de crise, direcciona o seu apoio e as suas garantias financeiras, justamente, para quem? Para a banca!
Ora, isto tem, evidentemente, reflexos ao nível da nossa sociedade, do bem-estar e da qualidade de vida das populações, mas há uma questão que preocupa particularmente Os Verdes e que é objecto deste projecto de lei que apresentamos. Tem a ver com a questão das despesas de manutenção de contas, que consideramos um verdadeiro escândalo. Como se as instituições bancárias não beneficiassem absolutamente nada pelo facto de as pessoas abrirem uma conta numa agência de um determinado banco!
Tive a preocupação, antes de vir para este Plenário, de me dirigir à Caixa Geral dos Depósitos — para não trazer valores desactualizados — e vejam bem, Srs. Deputados, «os preços» praticados pela Caixa Geral dos Depósitos ao nível das despesas de manutenção de contas. E estamos a falar de um banco público.
Se uma determinada pessoa tiver um saldo médio trimestral de 1000 € a 1500 €, paga, trimestralmente, 5 € à Caixa; se tiver um saldo médio trimestral de 500 € a 1000 €, paga, trimestralmente, 7 €; se tiver um saldo médio trimestral inferior a 500 €, paga, trimestralmente, 13 €. Ou seja, anualmente, um pensionista com uma baixa pensão ou um trabalhador com um baixo salário que tenha uma conta bancária, paga 52 € ao banco, só a título de despesas de manutenção de conta.
Ora, numa altura de crise, em que a banca continua com lucros perfeitamente estrondosos, entendemos que não precisam de continuar a ser indecentes com os mais frágeis economicamente, porque quanto menos as pessoas têm mais pagam aos bancos. Isto é indecência pura e dura e Os Verdes querem contribuir para acabar com esta situação.
Por isso, prevemos, neste projecto de lei, a isenção de despesas de manutenção de contas para quem tenha um saldo médio trimestral inferior a 1000 € e impomos um limite para quem tenha um saldo trimestral inferior a 3000 €.
Sr. Presidente, Sr.as e Srs. Deputados: Acho inacreditável a atitude que os Srs. Deputados do PS, do PSD e do CDS-PP tomaram aqui. Vivem a querer «enterrar a cabeça na areia».
Ou seja, sabem que a realidade é imoral, pois as pessoas que têm fracos recursos económicos pagam ao banco. E não pagam com ligeireza, Sr. Deputado António da Silva Preto, custa-lhes a pagar. Seguramente, a quem recebe 300 € ou 400 €/mês custa pagar cerca de 50 € ao banco! Ah, pois custa! Será irrisório para muitos mas para pessoas que recebem quantias deste valor é uma coisa extremamente significativa!
Aqueles que têm mais dinheiro no banco são isentos. E não é, Sr. Deputado, que continuam a receber correio, continuam a receber serviços por parte das instituições bancárias?! Portanto, que não seja esse o seu problema!
Estamos perante uma imoralidade praticada pelas instituições financeiras e os Srs. Deputados vivem de consciência tranquila.
A Sr.ª Deputada Leonor Coutinho diz assim: «Ah, mas já há legislação». Pois é, mas os resultados são estes!
Os Srs. Deputados dizem assim: «Ah, mas há entidades reguladoras». Pois é, mas os resultados são estes!
E de duas, uma: ou a Assembleia da República cruza os braços e «assobia para o lado» — não é isso que Os Verdes querem fazer, mas, pelos vistos, é isso que o PS, o PSD e o CDS fazem — ou, então, intervém, de facto, nesta matéria e aprova o projecto de lei que Os Verdes apresentaram, justamente para isentar pessoas com mais fracos recursos económicos das despesas de manutenção da conta.
Os senhores andam sempre com o mercado na boca — desculpem a expressão —, mas esquecem-se sempre dos direitos das pessoas.
Temos que olhar para os resultados concretos das políticas para as pessoas, porque são elas que são vítimas dessas vossas políticas, desse vosso mercado, que vocês não querem regular absolutamente nada. De facto, não convivemos bem com esta realidade, porque as pessoas de mais fracos recursos económicos são penalizadas. Os senhores louvam as instituições financeiras e as pessoas são prejudicadas por essas vossas opções políticas.
Termino, sim, Sr. Presidente.
De resto, os portugueses sabem quais foram as verdadeiras opções de intervenção sobre a crise. A primeira intervenção, a crucial intervenção, não foi para as pessoas e para as famílias portuguesas, foi justamente para as instituições financeiras e esta imoralidade tem que terminar!