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25/06/2009 |
Debate com o Primeiro Ministro - Ensino Superior |
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Intervenção do Deputado Francisco Madeira Lopes
Sr. Presidente, Srs. Membros do Governo,Srs. Deputados, Sr. Primeiro-Ministro,não posso deixar de começar por notar que, sempre que vem ao Parlamento, nos debates quinzenais, V. Ex.ª tem a preocupação de trazer medidas de carácter social. Mas o facto é que o País continua injusto, desigual, continua a semear pobreza e desemprego. Portanto, é preciso pensar bem quais são os resultados, de facto, das políticas que o Governo tem vindo a implementar, apesar dos muitos anúncios, qual é o seu resultado efectivo na sociedade e na economia portuguesa.
Esta crise deveria fazer perceber que é preciso mais do que paliativos, é preciso reformas estruturais à esquerda, a nível da economia, mas também a nível do ensino superior.
É que Portugal é um dos países onde as famílias mais pagam para o ensino superior. Aliás, pagam mais do que o próprio Estado para os estudantes poderem frequentar o ensino superior. Estes são dados de um estudo académico que foi apresentado recentemente na comunicação social.
O nosso ensino superior é elitista, em que mais de 90% dos estudantes provêm dos estratos médio ou médio alto, e é impossível não associar isto ao preço das propinas, ao custo da frequência do ensino superior, que, desde os anos 90, cresceu 452% e que, na vigência deste Governo, só no 1.º ciclo aumentou 10%, fruto das políticas de suborçamentação, que levaram as instituições de ensino superior a fixarem todas as propinas no máximo.
Para nós, não há dúvida de que o abandono escolar no ensino superior está ligado ao custo deste. O Partido Socialista, no último debate em que a oposição fez propostas sobre a matéria, não o reconheceu, mas hoje o Governo vem reconhecê-lo.
Nesse debate, dizia o Partido Socialista, pela voz do Sr. Deputado Manuel Mota, que não era verdade que houvesse abandono significativo de alunos no ensino superior por questões financeiras e que não era verdade que o actual sistema de acção social não respondia aos desafios que hoje lhe eram colocados.
Ora, hoje, o Sr. Primeiro-Ministro traz medidas e diz que são para que ninguém fique excluído, por razões económicas, da frequência de universidades e de politécnicos. Se isto não é «dar a mão à palmatória» e reconhecer que há dificuldades e que é preciso dar-lhes resposta, não sei o que é, Sr. Primeiro-Ministro.
V. Ex.ª disse: «Hoje, apoiamos mais de 73 000 estudantes». E quantos apoiávamos em 2004, Sr. Primeiro-Ministro? Os mesmos, porque, de facto, não aumentámos os apoios.
A verdade é que os senhores só olham para os «amendoins» e não para o «bife» e para o «arroz», não olham para o que é essencial. Não o fazem e não conseguem propor medidas que travem, de facto, o abandono do ensino superior.
Sr. Presidente, Sr. Primeiro-Ministro, V. Ex.ª vem anunciar medidas sociais, o problema é que elas não respondem aos problemas do País. Foi isso que eu quis dizer e V. Ex.ª não quis ouvir.
Já agora, que falou nos empréstimos, é bom lembrar que, claudicando a acção social deste Governo perante os problemas do ensino superior, a solução é sempre, e mais uma vez, a banca: vem aí a crise — «ajudemos a banca!»; é preciso apoiar a instalação de painéis solares — «através da banca!»; as pequenas e médias empresas têm dificuldades — «vão à banca pedir mais crédito!»; «não conseguem pagar as propinas nem os custos do ensino superior?» — e, Sr. Primeiro-Ministro, devia saber que não se restringem às propinas, mas falta aqui, hoje, o Sr. Ministro do Ensino Superior para lho recordar — «vão à banca!»
O recurso à banca pode resolver os problemas da banca, aumentando os seus lucros, mas, Sr. Primeiro-Ministro, não resolve os problemas nem da sustentabilidade do ensino nem do abandono do ensino superior a que estamos a assistir e pelos quais V. Ex.ª devia saber responder.