Intervenção da Deputada Heloísa Apolónia- Assembleia da República, 14 de Outubro de 2011
1ª INTERVENÇÃO
Sr.ª Presidente, Sr. Primeiro-Ministro, estive bem atenta à intervenção do Sr. Primeiro-Ministro ontem, quando fez a declaração ao País, e hoje, neste debate que aqui se travou. Já me atrevo a dizer que a palavra o Sr. Primeiro-Ministro vale o que vale, mas gostaria que o Sr. Primeiro-Ministro afirmasse peremptoriamente, depois da hecatombe que anunciou ontem e que veio hoje reafirmar, qual é o seu limite na austeridade. É este que apresentou ou ainda consegue ir mais longe? Penso que isto tem de ficar clarinho como água, Sr. Primeiro-Ministro!
2ª INTERVENÇÃO
Sr.ª Presidente, Sr. Primeiro-Ministro, o que acabou de afirmar, se bem percebi, é extraordinariamente grave. De facto, as semelhanças com o seu antecessor começam a ser demasiadas, Sr. Primeiro-Ministro! Tal como o anterior Sr. Primeiro-Ministro, em cada debate, vem anunciar mais pacotes de austeridade. O anterior primeiro-ministro dizia que faria tudo o que fosse preciso para atingir as metas a que se propunha; o Sr. Primeiro-Ministro vem dizer que fará tudo o que for indispensável para atingir as metas a que se propõe. Isso é extraordinariamente grave, porque o Sr. Primeiro-Ministro não foi capaz de dizer quais são os limites. Ou disse? Disse que o seu limite era a ética social. Ora, aqui teríamos muito que conversar, Sr. Primeiro-Ministro, porque pôr as pessoas, os trabalhadores portugueses a trabalhar mais de um dia por mês, ou seja, mais 10 a 12 horas e meia por mês, de borla, de graça, sem que lhes paguem mais por isso, é de uma ética social de bradar aos céus, Sr. Primeiro-Ministro! Furtar subsídio de férias e subsídio de Natal aos portugueses é de uma ética social que não tem precedentes, Sr. Primeiro-Ministro! É a isto que o Sr. Primeiro-Ministro chama ética social? O que é de uma total falta de ética é o Sr. Primeiro-Ministro, na campanha eleitoral, pelos vistos, ter falado demais e ter dito que cortar no subsídio de férias era um disparate, ter dito claramente que não mexeria nos impostos sobre o rendimento do trabalho — ah, pois não…, os portugueses nem vão pagar mais IRS…, pois não, Sr. Primeiro-Ministro?!… — ter dito que não afectaria a taxa intermédia do IVA — pois não, nem vai mexer nela…, pois não, Sr. Primeiro-Ministro?!… Os portugueses nem vão pagar mais pelos produtos alimentares, pois não, Sr. Primeiro-Ministro?!… E a restauração nem sequer será afectada?! Isto é extraordinariamente grave! Isto é monstruoso, Sr. Primeiro-Ministro! Isto é absolutamente terrível! Quando um Primeiro-Ministro falta desta forma à sua palavra há uma coisa que todos percebemos: perdeu a confiança do País! O Sr. Primeiro-Ministro perdeu a confiança do País! O grande problema é que, arrastando esta falta de verdade nas palavras do Sr. Primeiro-Ministro, o que vem é a hecatombe económica e social do País. O Sr. Primeiro-Ministro está a contribuir para nos pôr de rastos ao nível económico e ao nível social. E depois como é que nos vamos levantar, Sr. Primeiro-Ministro? Vai mandar-nos ao chão, vai destruir-nos! E depois como é que nos levantamos? Isto é uma hecatombe total! Isto é um colapso total! Julgo que os portugueses têm de se levantar para se fazer ouvir pelo Sr. Primeiro-Ministro, demonstrando um total desacordo relativamente às medidas anunciadas.
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