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Intervenções na Ar (Escritas)
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29/05/2013
Debate de urgência sobre o guião para a «reforma do Estado» e o novo pacote de austeridade apresentado pelo Governo
Intervenção do Deputado José Luís Ferreira
Debate de urgência sobre o guião para a «reforma do Estado» e o novo pacote de austeridade apresentado pelo Governo
- Assembleia da República, 29 de Maio de 2013 –

1ª Intervenção

Sr.ª Presidente, Sr. Ministro de Estado, Sr.ª Secretária de Estado: Já percebemos há muito que este Governo está decidido a acabar com o Estado social e que a isso chama «reforma do Estado».
Também já percebemos que este Governo não sabe fazer mais nada que não seja impor austeridade e que o faz em nome da reforma do Estado. São cortes nos salários, cortes nas prestações sociais e nas reformas — nos seus reformados, Sr. Ministro! —, cortes nos direitos das pessoas, cortes nas políticas sociais, mais impostos e menos serviços públicos… E continua sem resolver nenhum dos nossos problemas.
A situação, aliás, agrava-se ainda mais cada vez que o Governo impõe novos pacotes de austeridade. É mais desemprego, mais pobreza, mais exclusão social, mais défice, mais dívida pública e mais recessão.
Ainda hoje, ficámos a conhecer as previsões da OCDE, que apontam, de forma muito clara, para uma recessão mais profunda ainda este ano e que para o ano a nossa economia irá crescer muito menos do que aquilo que o Governo esperava.
E, de facto, esses dados não nos surpreendem. O que nos surpreende é a cegueira do Ministro das Finanças, que se aprontou de imediato a afirmar que, mesmo com estas previsões, o cenário macroeconómico do Orçamento retificativo será exatamente o que consta do Documento de Estratégia Orçamental.
Portanto, tudo continua na mesma, tudo continua como dantes e continuamos a seguir as orientações apagadas do iluminado Ministro das Finanças!
Mas o pior é que o Governo insiste nos sacrifícios e prepara-se agora para atacar de novo o seu alvo preferido, que são os funcionários públicos.
Seria bom agora dizer que, quando o Governo fala de propostas de rescisão por mútuo acordo, não se trata de despedir, que não estamos perante despedimentos. Nós temos de dizer que o Governo está a faltar à verdade, o Governo não está a dizer a verdade, porque, de facto, o que o Governo se prepara para fazer são despedimentos em larga escala no sector público.
Se dúvidas houvesse a este respeito, bastaria atender a um pequeno detalhe: é que o Governo avança com esta medida e até já sabe quantos funcionários públicos estão dispostos a rescindir por mútuo acordo, mesmo sem lhes ter perguntado nada. Isto é fantástico! O Governo até adivinha quantos funcionários públicos aceitam a rescisão. De facto, uma previsão destas só mesmo vinda do mestre das previsões, que é o nosso Ministro das Finanças!
O Governo fala de mobilidade especial, mas do que se trata é de uma verdadeira via verde para o despedimento. Em vez de falar de mobilidade especial, seria melhor que o Governo falasse de despedimento especial, porque o Governo quer despedir à margem da lei.
Aliás, este Governo tem muita dificuldade em conviver dentro do quadro constitucionalmente estabelecido. Este Governo não convive bem com a nossa Constituição. Basta ver que ainda não foi capaz de nos apresentar um único Orçamento do Estado que se contivesse dentro das normas constitucionais. Em dois Orçamentos do Estado, o Governo violou a Constituição em ambos. Agora, foi a lei das comunidades intermunicipais, que o Tribunal considerou inconstitucional. Mesmo assim, o Governo insiste em voltar a fazê-lo, neste pacote de austeridade sobre os trabalhadores da Administração Pública.
Sr. Ministro de Estado, às vezes, fica a ideia de que o Governo não tem a noção de que temos uma Constituição, à qual o Governo também está sujeito.
Para terminar, a pergunta que tenho para lhe fazer, Sr. Ministro, é sobre os seus reformados, os reformados que foram objeto de toda a atenção do CDS-PP durante a campanha eleitoral e que já foram muito castigados por este Governo, do qual o Sr. Ministro faz parte.
Sr. Ministro, num dia temos taxas nas reformas, no outro dia já não temos, afinal, consta do escrito…
Preto no branco: Sr. Ministro, vamos ter taxas nas reformas ou não?

2ª Intervenção

Sr.ª Presidente, Srs. Deputados: Já há pouco referi as dificuldades deste Governo em conviver com a nossa Constituição. O Governo move-se mal e convive com visível desconforto no quadro constitucional e também com as soluções sociais do Estado que decorrem dessa Constituição. Isto é visível sempre que o Governo anuncia medidas. Foi visível no Orçamento do Estado para 2012, foi visível no Orçamento do Estado para 2013, é visível agora na lei das comunidades intramunicipais e nas alterações à legislação laboral, sobre as quais o Tribunal Constitucional ainda não se pronunciou mas cujo resultado se adivinha. É agora visível nesta nova ofensiva contra os funcionários públicos, com cortes que o Governo pretende que venham a ter natureza permanente e que também são de duvidosa constitucionalidade.
Nesta matéria, há uma agravante: é que o Governo pretende fazê-lo através de uma portaria, com o propósito claro de fugir ao debate e de excluir a Assembleia da República dessa discussão, fazendo-o, assim, em silêncio.
Para além da forma, interessa também olhar para o conteúdo, porque o Governo parece que não conhece limites quando se trata de impor sacrifícios às pessoas que trabalham e, agora, no caso concreto, aos trabalhadores da Administração Pública: menos dinheiro durante as baixas por doença, mais 5 horas de trabalho por semana, redução de férias e de direitos laborais, aumento da idade da reforma e mais despedimentos.
Sr. Ministro, por este caminho, onde é que isto vai parar?! Onde é que termina este pesadelo?!
Mais, Sr. Ministro: sendo o desemprego o maior problema com que hoje nos defrontamos, e que aliás este Governo transformou num verdadeiro pesadelo social, seria oportuno que nos explicasse, com a clareza que lhe é característica, qual é o contributo destas medidas para combater o desemprego.
Explique-nos, Sr. Ministro, de que forma é que o aumento da idade da reforma contribui para combater o desemprego. De que forma é que o aumento do horário de trabalho para os funcionários públicos contribui para combater o desemprego? De que forma é que este verdadeiro despedimento coletivo, que é, aliás, o maior despedimento coletivo de que há memória, contribui para combater o desemprego?
Sr. Ministro de Estado, creio que seria importante que nos explicasse como é que estas medidas encaixam na estratégia do Governo no que diz respeito ao combate ao desemprego, que o Governo diz estar a fazer. Seria importante que os portugueses entendessem, porque ninguém compreende, como é que o Governo combate o desemprego despedindo. Explique-nos, Sr. Ministro, porque não estamos a ver como é que se combate o desemprego despedindo.
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