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Intervenções na Ar (Escritas)
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10/10/2012
Debate de urgência sobre privatizações
Intervenção do Deputado José Luís Ferreira
Debate de urgência sobre privatizações
- Assembleia da República, 10 de Outubro de 2012 –

1ª Intervenção

Sr.ª Presidente, Sr.as Secretárias de Estado, Sr.as e Srs. Deputados: Privatizar, privatizar e privatizar — esta é a palavra de ordem do Governo PSD/CDS-PP, que ainda por cima diz não ter uma agenda ideológica.
E para grande prejuízo dos portugueses, que assistem ao mais completo esvaziamento do nosso património coletivo, o Governo avança sem olhar para trás e prepara-se para privatizar mais um conjunto de empresas estratégicas.
Do outro lado, estão os do costume, os grandes grupos económicos, impacientes, à espera que o Governo proceda à abertura do leilão ou «atire os rebuçados ao ar».
Transportes, EMEF, CTT, TAP, ANA, RTP, Estaleiros Navais de Viana do Castelo, nada escapa a esta onda de privatizações, que põe tudo o que é de todos nas mãos de uns poucos — uma pouca-vergonha!
Nem mesmo a água escapa à gula dos grandes interesses. E quando falamos da água, convirá recordar que estamos a falar de um bem que, pela sua própria natureza e por tudo aquilo que representa, não pode ser gerido em função de critérios de lucro e de distribuição de dividendos por acionistas mas, sim, numa lógica que atenda às necessidades das populações.
Mas, com este Governo PSD/CDS-PP, os interesses das populações ou a garantia do serviço público de rádio e televisão assumem pouco valor, porque valores mais altos se levantam. Pelos vistos, os interesses dos grandes grupos económicos, que este Governo tanto tem protegido, continuam a falar mais alto do que o interesse público.
Como quem «atira terra para os olhos dos portugueses», o Governo vem falar da necessidade de melhorar a competitividade das empresas. Competitividade das empresas?! Mas o Governo andará a dormir? Afinal, onde está a competitividade dos setores que foram objeto de privatizações, no passado?
Onde está a competitividade do setor financeiro, do setor elétrico ou do setor dos combustíveis?
No acesso ao crédito, estamos pior, muito pior. Na eletricidade e nos combustíveis, as famílias e as pequenas e médias empresas estão hoje a pagar a eletricidade e os combustíveis mais caros da Europa — pagam muito mais hoje do que pagavam quando essas empresas pertenciam ao setor público. Afinal, onde está a melhoria da competitividade? E aqui, Sr.ª Secretária de Estado, deixo-lhe já a primeira pergunta: onde está a melhoria da competitividade com as privatizações?
Depois, o Governo fala da redução da dívida pública. E aqui, de duas, uma: ou o Governo anda mesmo a dormir, ou não sabe fazer contas. Então, o Governo não percebe que a dívida aumenta ao ritmo do volume das privatizações? Não percebe que, quanto mais privatiza, mais aumenta a dívida?
De facto, o Governo, se soubesse fazer contas, haveria de perceber que os lucros das empresas que foram privatizadas no passado, como a EDP, a GALP, a PT, a REN ou a Brisa, contribuíram, durante anos e anos, com fortes e gordas receitas para o Orçamento do Estado. E aqui fica a segunda pergunta, Sr.ª Secretária de Estado: é verdade ou não que a privatização dessas empresas, no passado, contribuiu decisivamente para o agravamento do défice orçamental e do nosso défice externo?
Por fim, uma última questão relativa à Caixa Geral de Depósitos. O Sr. Primeiro-Ministro, num dos últimos debates quinzenais, afirmou neste Plenário o seguinte: «No dia em que o Governo tiver de anunciar alguma coisa relevante sobre a Caixa Geral de Depósitos, não deixará de o fazer».
Sr.ª Secretária de Estado, esse dia é hoje? Há alguma coisa relevante para nos dizer sobre o processo de privatização da Caixa Geral de Depósitos?
Já agora, Sr.ª Secretária de Estado, confirma as notícias de que o Governo terá contratado a Deloitte para avaliar a Caixa Geral de Depósitos, no quadro da sua privatização?

2ª Intervenção

Sr.ª Presidente, Sr.ª Secretária de Estado, sabemos que a intenção do Governo em privatizar a Empresa Geral de Fomento, SA (EGF), empresa de gestão de resíduos do Grupo Águas de Portugal, está em marcha e, até ao que parece, já tem potenciais compradores a posicionarem-se no terreno.
Ora, sendo que um dos grandes argumentos utilizados pelo Governo para a privatização é a redução da dívida pública, como é que se compreende que o Governo avance com a privatização de uma empresa que, em 2011, apresentou lucros na ordem dos 6,4 milhões de euros? 6,4 milhões de euros sem contar com os ganhos das participadas, porque, nesse caso, o lucro do grupo é muito mais elevado, porque os resultados líquidos das 11 empresas participadas pela EGF ascendem a 21 milhões de euros no ano passado.
Portanto, seria bom que nos dissesse como é que o Governo privatiza empresas que dão tanto lucro, que tanto contributo, em termos de receita, dão para o Orçamento do Estado e, depois, ainda venha dizer que privatiza para reduzir a dívida pública? Como é que isto se explica? É que não bate a bota com a perdigota!
Por outro lado, Sr.ª Secretária de Estado, a Empresa de Manutenção de Equipamento Ferroviário, a EMEF, para além de ser a maior empresa de metalomecânica do País, é a única empresa que faz reparação de comboios. Ora, eu creio que há muita necessidade de valorizar as empresas portuguesas, mas o Governo tem vindo a encerrar serviços da EMEF — fê-lo na Figueira da Foz, na Régua, em Mirandela, e por aí fora — e eu gostaria de saber que planos é que o Governo tem para a EMEF.
Sobre os Estaleiros Navais de Viana do Castelo, não vou falar da gestão danosa que, intencionalmente ou não, preparou o terreno para a entrega dos Estaleiros aos privados, nem sequer vou falar do contributo que esta eventual privatização vai trazer no que diz respeito ao aumento do desemprego para a região; vou falar, sim, da carteira de encomendas para saber se a Sr.ª Secretária de Estado está em condições de nos garantir que a carteira de encomendas será executada pelos Estaleiros Navais de Viana do Castelo, caso a privatização desses Estaleiros venha a concretizar-se, como pretende o Governo.
Por fim, a Sr.ª Secretária de Estado referiu-se à regulação, como se a regulação fosse o remédio santo para as privatizações. Eu confesso que não sei a que regulação é que a Sr.ª Secretária de Estado se estava a referir. É que eu olho, por exemplo, para a regulação da energia e o que é que vejo? Vejo que o regulador da energia mostra-se, completamente, incapaz de assegurar os interesses dos consumidores, permitindo aumentos dos preços da eletricidade mesmo que não haja aumentos de salários, mesmo que não haja aumento da inflação.
Portanto, Sr.ª Secretária de Estado, não sei a que regulação se referia e se pudesse ser mais concreta, agradecia.
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