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Intervenções na Ar (Escritas)
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12/07/2013
Debate sobre o estado da Nação
Intervenção da Deputada Heloísa Apolónia
Debate sobre o estado da Nação
- Assembleia da República, 12 de Julho de 2013 –

1ª Intervenção

Sr. Presidente, o Sr. Primeiro-Ministro tem consciência, ao longo destes dois anos, de quantas vezes já anunciou aqui alguns sinais que considerava extraordinariamente positivos e que a breve prazo que viria a recuperação? O Sr. Primeiro-Ministro tem consciência de quantas vezes fez o papel que está a fazer neste preciso debate? É sempre a mesma coisa, Sr. Primeiro-Ministro!
A história repete-se permanentemente com este Governo e com este Primeiro-Ministro. Ou seja, faz sempre o anúncio, no meio de uma tempestade, de que a luz ao fundo do túnel está para breve, e o certo é que essa luz ao fundo do túnel não chega, a perspetiva de mudança não chega, Sr. Primeiro-Ministro.
Em 2011, o Sr. Primeiro-Ministro disse que 2012 seria o ano de viragem, mas não foi. E depois prometeu a recuperação económica para 2013, que não se concretizou. É o próprio Governo que perspetiva uma recessão de 2,3% para 2013 e, agora, há de ser para 2014, para 2015, e nunca mais chega! Porquê, Sr. Primeiro-Ministro? Porque estas políticas que o Governo tem vindo a implementar geram, elas próprias, uma crise económica e social estrutural, Sr. Primeiro-Ministro.
É por isso, por exemplo, que o próprio Governo prevê, para 2020 (isto é, praticamente uma década depois de o Governo tomar posse), que o crescimento não ultrapasse sequer os 2% do PIB. Obviamente, tal não se reflete depois, Sr. Primeiro-Ministro, numa produção significativa de emprego. Portanto, estamos numa perspetiva completamente negra.
Ao ouvir o Sr. Primeiro-Ministro no início do mandato, quem diria que chegaríamos ao debate do estado da Nação de 2013 nas condições em que estamos hoje, com níveis de desemprego absolutamente assustadores, com níveis de pobreza absolutamente hediondos, com um empobrecimento crescente no País, com níveis de recessão completamente devastadores para o País?
Sr. Primeiro-Ministro, de facto, neste momento, isto não tem solução, e não tem solução por via da continuidade da implementação de políticas que geram estes resultados. A solução é a inversão completa destas políticas, mas os senhores assumem que não querem fazê-la e, portanto, não obterão resultados sustentáveis visíveis, Sr. Primeiro-Ministro.
Outra questão que se coloca e que é extraordinariamente importante é esta da crise do Governo. Poder-se-ia dizer assim: «Zangaram-se, acontece». Não, não é nada disso, Sr. Primeiro-Ministro, embora tenha sido mais ou menos essa a ideia que quis fazer passar aqui, até dizendo que são tricas laterais, não é verdade?
Sr. Primeiro-Ministro, estamos a falar de coisas muito sérias.
Estamos a falar de uma crise que chega ao Governo porque há uma demonstração clara de um falhanço rotundo das políticas do Governo. Mas sabe o que é mais preocupante, Sr. Primeiro-Ministro? É que esta crise do Governo não revela só o falhanço das políticas seguidas até então. Os Verdes consideram que ela revela mais do que isso, revela que as perspetivas futuras não são nada boas, porque se as perspetivas a curto prazo se revelassem boas para o Governo esta crise não se tinha dado.
Portanto, o quadro à vista é negro, e isso é que é verdadeiramente preocupante. Não há remendos para pôr no Governo, Sr. Primeiro-Ministro. Não peça essa benesse ao País, não peça essa segunda oportunidade ao País. O que o Sr. Primeiro-Ministro tinha a provar ao País, já provou, não peça mais oportunidades. Falhou, falhou, Sr. Primeiro-Ministro!
Depois, temos um outro problema, que é o de termos um Presidente da República que, em vez de assumir o seu sentido de Estado, o que faz é promover e apoiar estas políticas negativas que têm sido implementadas.
De facto, temos diversas instituições e diversos órgãos de soberania que não estão a compreender a generalidade dos portugueses, porque a tensão social é grande, o descontentamento e a frustração são grandes. Mas o Sr. Primeiro-Ministro esperaria outra coisa? Não pode ser!
O Sr. Primeiro-Ministro chegou ao Governo mentido — tem consciência disso? —, disse que ia fazer coisas que não fez e também disse que não ia fazer coisas que fez. Não é assim que se pode estar na política. A palavra dada aos portugueses tem de valer alguma coisa, a palavra das pessoas que estão na política em representação dos portugueses tem de valer alguma coisa.
Termino, Sr. Primeiro-Ministro, colocando um desafio e dando uma informação.
O desafio (talvez o transforme numa pergunta) é o seguinte: será que o Sr. Ministro de «não sei quê» — não sei exatamente o que é, mas acho que ainda é Ministro de Estado e dos Negócios Estrangeiros —, o Sr. Ministro Paulo Portas, vai falar no decurso do debate, de modo a que o possamos confrontar com perguntas diretas sobre a situação que estamos a viver, naturalmente porque representa o outro partido que está no Governo?
Por último, Sr. Primeiro-Ministro, porque este Governo se revelou um problema enormíssimo para o País, fruto das políticas que tem implementado, porque este Governo apodreceu a vida política em Portugal e porque este Governo acabou, Os Verdes apresentarão, no início da próxima semana, uma moção de censura ao Governo, que será discutida neste Parlamento, um Parlamento cuja maioria não representa mais a população portuguesa!

2ª Intervenção

Sr.ª Presidente, Sr. Primeiro-Ministro, se me permite, o Governo tem legitimidade, como é óbvio — ninguém o questiona —, para escolher o membro que entender para falar em qualquer um dos debates.
Todavia, nós não estamos num momento qualquer e os membros do Governo assumem responsabilidades diferentes, também — não me refiro à política executada, porque ela é certamente do Governo. Ora, face a estas últimas semanas, é estranhíssimo que o Sr. Ministro de Estado e dos Negócios Estrangeiros demissionário não fale no debate de modo a poder sujeitar-se ao contraditório. Fará, provavelmente, a intervenção de encerramento, sem que possa ser confrontado pelos grupos parlamentares com qualquer questão.
Quero assinalar que consideramos isto profundamente negativo.
A leitura que fazemos, Sr. Primeiro-Ministro — legítima, julgo eu —, é a de que não há, de facto, uma confiança entre membros do Governo, designadamente entre o Sr. Primeiro-Ministro e o senhor, ainda ministro, que referi.
Por último, gostaria de dizer o seguinte: houve quem adivinhasse, Sr.as e Srs. Deputados, designadamente há dois anos, que daqui a uns tempos (por exemplo, neste futuro em que nos encontramos agora) estaríamos nas condições em que estamos. E isto não quer dizer que alguém aqui seja bruxo, porque quem tivesse os pés bem assentes na terra conseguiria medir exatamente as consequências da política absolutamente nefasta do acordo com a troica e dos resultados que ela viria a ter a curto, a médio e, até, a longo prazo.
O Sr. Primeiro-Ministro continua a refugiar-se nas condições externas, alegando que não foram aquelas que pensava que seriam. E o FMI continuará, de tanto em tanto tempo, a dizer que calculou mal os efeitos da austeridade sobre a economia.
Ora, nós não podemos continuar nas mãos destas pessoas que conhecem perfeitamente os efeitos das suas políticas na vida concreta das pessoas, mas fingem que esses efeitos não irão acontecer e estão permanentemente a fazer promessas para o futuro que não acontecerão, porque a alteração destas condições desgraçadas de desemprego, de recessão e de más condições para que o País se consiga levantar e crescer sustentavelmente não pode advir destas políticas prosseguidas.
Além do mais, Sr.as e Srs. Deputados, é muito triste estarmos perante um Governo que, face a erros absolutamente crassos, como foi o do aumento do IVA na restauração, não consiga fazer sequer esse «remendozinho» nas medidas que tomou, ou seja, retificando o que seria tão fácil e que é tão óbvio que foi uma machadada na nossa economia e na delapidação da nossa economia.
Quando o Governo nem tem capacidade para ir a estes pormenores e a estes erros crassos, de facto estamos perante um Governo que não serve rigorosamente para nada no que se refere à sustentabilidade do País.
Isto é uma absoluta vergonha e sustenta, sim, Srs. Deputados, uma moção de censura que trará para dentro desta Casa a voz dos portugueses!
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