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14/03/2012
Declaração política da Deputada Heloísa Apolónia sobre acidente nuclear de Fukushima
Declaração política da Deputada Heloísa Apolónia sobre acidente nuclear de Fukushima
Assembleia da República, 14 de março de 2012
 
Sra. Presidente
Sras. e Srs. Deputados
 
Passou 1 ano sobre o fortíssimo abalo sísmico ocorrido no dia 11 de Março no Japão, seguido de tsunami, que teve efeitos devastadores, entre os quais a explosão, a 12 de Março, de reatores da central nuclear de Fukushima, decorrente de incapacidade de resistência do sistema de refrigeração.
 
Deste drama, relacionado diretamente com o acidente nuclear de Fukushima, resultaram 150.000 pessoas refugiadas dentro do seu próprio país, para fugir ao perigo radioativo mortífero, e 28 milhões de metros cúbicos de solo radioativo contaminado diretamente da central. 600 mil milhões de dólares é o custo estimado para assumir os efeitos mais diretos do custo total do desastre nuclear.
 
São dramas e perdas que não se circunscrevem a um momento determinado ou a um espaço confinado. São dramas e perdas que se prolongam no tempo e no espaço.
 
Fukushima demonstrou de uma forma “inabalável” que a produção de energia nuclear não é segura! Aqueles que apregoam a alta segurança do nuclear procuraram minimizar o desastre de Fukushima de uma forma profundamente desumana e com uma insensibilidade atroz. São os mesmos que nunca se referem aos custos exorbitantes de desmantelamento e à produção elevada de CO2 decorrente desse desmantelamento de uma central nuclear. São os mesmos que querem lançar o debate, mas que nunca falam dos resíduos radioativos que são indestrutíveis e potenciais contaminadores durante milhares de anos. São aqueles que sugerem enriquecer, com um negócio nuclear, à custa da insegurança e do perigo generalizado a todos!
 
No mundo existem cerca de 440 reatores nucleares, cada um deles constituindo um perigo para uma comunidade em concreto, para uma região concreta, para um Estado concreto, para um Planeta em concreto, que é o único que temos para nos acolher! É este o mundo que se construiu, importando perceber que ao nível energético se criou uma potencial bomba delapidadora do planeta, descentralizada por vários pontos do globo, gerando um paradigma de insegurança que importa que retroceda a bem da humanidade e de todas as formas de vida.
 
O nuclear não é uma fonte de energia limpa (produz resíduos radioativos), o nuclear não é uma indústria barata (se contabilizados todos os seus procedimentos, incluindo o limite de vida de uma central nuclear e a sua necessidade de desmantelamento, bem como os financiamentos públicos que influem na sua capacidade de competitividade), o nuclear não é uma fonte de energia renovável (é dependente do urânio que é esgotável).
 
Em Portugal já se viu alegar algo tão disparatado quanto isto: coabitando nós com os riscos do nuclear instalado na vizinha Espanha, é, então, pouco acrescentador de perigo a construção de uma central nuclear por cá. Como se nos fizessem a todos de tolos, e nos indicassem que termos um foco de perigo ou três ou quatro vem tudo a dar no mesmo! Não! Portugal, que optou, e muito bem, pelo Não ao nuclear nos anos 70, que rejeitou sujeitar-se a riscos tamanhos, deve mover-se pelo alargamento da segurança e pela isenção de riscos que escolhemos não ter, impelindo igualmente outros a inverter o seu caminho nuclearista. E, também por isso, torna-se relevante uma contestação à importação, por Portugal, de energia nuclear (advenha ela de Espanha, de França ou de outro lado qualquer).
 
Essa é uma responsabilidade nossa e, porque assim é, o PEV não poderia deixar hoje de relembrar o recente drama de Fukushima.
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