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Intervenções na Ar (Escritas)
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07/12/2011
Funcionamento da União Europeia

Intervenção do Deputado José Luís Ferreira- Assembleia da República, 7 de Dezembro de 2011

 
Sr.ª Presidente:
O Governo apresenta-nos, para discussão, uma proposta com vista a aprovar a Decisão do Conselho Europeu de 25 de Março de 2011, que altera o artigo 136.º do Tratado sobre o Funcionamento da União Europeia.
Com esta proposta, o que está verdadeiramente em causa é a criação de um mecanismo que pretende submeter os programas de intervenção nos países em dificuldade a situações de verdadeira e penosa austeridade e, até, à imposição de alterações às políticas sociais desses Estados-membros.
Contudo, desde Março, muita coisa mudou na Europa. Mudou tanta coisa que os próprios Governos da França e da Alemanha já estão noutro patamar da discussão. Falam, agora, de um «governo económico» e da necessidade de proceder à revisão dos tratados da União Europeia com vista a consagrar aquilo a que chamam a «cultura da disciplina orçamental vinculativa», o tal «travão à dívida».
Parece-nos, assim, que a ambição subiu de fasquia e que, agora, pretendem controlar totalmente a política económica dos Estados-membros. Nessa perspectiva, a proposta que o Governo, hoje, nos apresenta está completamente desfasada do tempo.
Mas há mais: desde que o Conselho Europeu tomou a decisão de alterar o artigo 136.º do Tratado sobre o Funcionamento da União Europeia, até aos dias de hoje, «muita água passou debaixo da ponte». Passou, pelo menos, a água suficiente para se conseguir perceber o alcance e as consequências das políticas de austeridade que foram impostas pela tróica aos países em dificuldade, como é o caso de Portugal, que assiste, actualmente, ao agravar dos efeitos recessivos na nossa economia.
Está, assim, mais do que visto que estas políticas de austeridade apenas trazem sacrifício atrás de sacrifício para os povos da Europa e que nada resolvem, constituindo, até, um factor de agravamento da situação económica dos Estados-membros que estão em dificuldade.
Neste sentido, Os Verdes consideram que esta Assembleia, em vez de estar a aprovar alterações ao Tratado sobre o Funcionamento da União Europeia no sentido de criar mecanismos de austeridade aos países em dificuldade, deveria manifestar a sua exigência para com a União Europeia para que esta introduzisse os conceitos de coesão e de solidariedade no seu vocabulário. E esta Assembleia também deveria manifestar, de forma clara, a sua recusa em proceder a mais transferências de soberania para a União Europeia e, desde logo, a sua soberania orçamental, que é a questão-chave de qualquer povo em termos de soberania.
Para Os Verdes continua a ser imprescindível que esta Assembleia continue a definir, sem quaisquer condicionalismos, as suas políticas económicas, as suas políticas sociais e as suas políticas orçamentais.
Em relação à proposta do Governo, Os Verdes vão votar contra, porque criar mecanismos que tragam mais austeridade aos países em dificuldade é criar mais dificuldade a esses Estados-membros e, sobretudo, impor mais sacrifícios aos povos da Europa, sem nada resolver, como, aliás, está a ver-se na Grécia e também em Portugal, ainda que noutra escala.
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