Pesquisa avançada
Início - Grupo Parlamentar - XII Legislatura - 2011/2015 - Intervenções na Ar (Escritas)
 
Intervenções na Ar (Escritas)
Partilhar

|

Imprimir página
16/10/2013
Orçamento de Estado para 2014 - Declaração política da Deputada Heloísa Apolónia
Declaração política da Deputada Heloísa Apolónia
Orçamento de Estado para 2014
- Assembleia da República, 16 de Outubro de 2013

1ª Intervenção

Sr.ª Presidente, Sr.as e Srs. Deputados: Não sei se se recordam, mas quando discutimos aqui uma moção de censura apresentada por Os Verdes a este Governo nós afirmámos que o Sr. Ministro Paulo Portas tinha perdido toda a credibilidade naquilo que disse e que diria para futuro devido à questão da demissão irrevogável, em que demonstrou, absolutamente, não ter palavra em política. Tínhamos razão e, na passada semana, isso foi novamente demonstrado. É que quem ouviu o Sr. Vice-Primeiro-Ministro Paulo Portas, naquela conferência de imprensa, a propósito das oitava e nona avaliações da troica, não podia vislumbrar que viria a ser apresentado um Orçamento do Estado com estas características.
Mas não é só esse membro do Governo que perde palavra perante os portugueses, na verdade é o Governo no seu conjunto. É que lembramo-nos de o Ministro Vítor Gaspar, no final de 2011, dizer que, perante a dose de austeridade prevista, que ia ter um imenso sucesso no crescimento económico — lembram-se?! —, não seriam necessárias mais medidas de austeridade. Quem imaginaria chegar ao ano de 2013 e fazer face à apresentação de um Orçamento do Estado para 2014 com estas características?!
O Sr. Primeiro-Ministro dizia, em 2011, que o ano de 2012 seria um ano de viragem e, em 2012, dizia que o ano de 2013 era já um ano de crescimento económico. Quem esperaria, pois, chegar a 2013 e confrontar-se com um Orçamento do Estado para 2014 com estas características absolutamente medonhas?!
Estamos, de facto, perante um Governo sem palavra e, mais grave, um Governo que prossegue um caminho que já deu provas de que não dá resultado e que delapida a vida concreta dos portugueses.
Deu ontem entrada, na Assembleia da República, Sr.ª Presidente, Sr.as e Srs. Deputados, o Orçamento do Estado para 2014. É um autêntico pavor para os portugueses e para o País.
Os Verdes diziam, desde há muito tempo, que esta discussão que se faz no sentido de saber se se deve cortar do lado da despesa ou do lado da receita é absolutamente irrelevante para a vida concreta das pessoas, e tínhamos razão. É que, corte-se na receita ou corte-se na despesa, a orientação e a consequência vão sempre atingir as mesmas pessoas. E, perante este Orçamento do Estado, não estamos diante de uma situação de escolha entre o corte na despesa ou o corte na receita, porque nele vem tudo: vem o corte na despesa e o corte na receita, ou seja, é um profundo atentado contra a vida concreta das pessoas, é tirar sempre aos mesmos, Sr.as e Srs. Deputados!
A equidade, que a Sr.ª Ministra das Finanças tanto quis realçar — presumo que seja uma palavra que vá ser muito repetida, certamente para o Tribunal Constitucional, para quem o Governo anda sempre a mandar recados —, está completamente arredada do Orçamento do Estado para 2014. Quando verificamos que o esforço da banca, das energéticas, das petrolíferas, ou seja, do grande poder financeiro e económico não chega aos 5% e que o esforço que recai sobre os cidadãos concretos ultrapassa os 85%, temos tudo dito! As opções políticas estão feitas e são opções ideológicas, Sr.as e Srs. Deputados!
O Governo entrou numa guerra profunda com os funcionários públicos e com os reformados e pensionistas. Foi a quem se direcionou para cortar, cortar, cortar, até não poder mais. E, quanto à matéria do corte dos salários, que é anunciada como transitória, importa dizer, aliás — já aqui o dissemos —, que quando a Sr.ª Ministra das Finanças não responde dizendo até quando será feito esse corte, aquilo que a Sr.ª Ministra está a dizer é que «será definitivo e até quando nos apetecer; logo veremos». Estas não são respostas que se deem aos portugueses! Os portugueses não estão sentados a acatar as ordens do Governo, porque o Estado somos todos nós, Sr.as e Srs. Deputados! Os portugueses também são Estado e, portanto, no mínimo, merecem respeito, por parte do Governo| Mas aquilo que este Orçamento do Estado demonstra é, sim, um profundo desrespeito para com os portugueses.
Sobre o corte nas pensões de sobrevivência, Sr.as e Srs. Deputados, não tenho qualquer dúvida relativamente àquilo que vou dizer e que é a minha profunda convicção: se a contestação não tivesse sido forte e imediata, com certeza absoluta teríamos anúncios de cortes nas pensões de sobrevivência da ordem dos 600 €, 700 € ou 800 €, porque este Governo não tem escrúpulos absolutamente nenhuns. E, então, o que quero dizer? Que vale a pena contestar, que vale a pena lutar, que vale a pena fazermo-nos ouvir. Não estou, com isto, a dizer, obviamente, que a medida que o Governo apresenta, no sentido do corte das pensões de sobrevivência, apesar de ter outro teto, é uma medida justa. Não é uma medida justa, porque estas pensões resultam de contribuições feitas, o que revela que o Governo não tem escrúpulos absolutamente nenhuns.
Aquilo que queremos dizer, Sr.as e Srs. Deputados, e a concluir esta declaração política, é que vale a pena fazermo-nos ouvir, vale a pena contestar, vale a pena denunciar e vale a pena contribuir para tudo aquilo que permita fragilizar este Governo e estas políticas.
Daí que o grande apelo que Os Verdes fazem hoje, aqui, neste Hemiciclo, seja no sentido de que, no dia 19 de outubro, haja uma grande adesão à manifestação marcada pela CGTP, para que uma multidão possa servir de base à mensagem que tem de ser passada, neste País, para o Governo, e que, no dia 8 de novembro, a greve já marcada pela Frente Comum seja também uma greve com grande adesão, para que este Governo perceba que os funcionários públicos portugueses não são fantoches, são gente, com vida concreta, com família concreta e com dignidade concreta. É dignidade que este País reclama! 

2ª Intervenção

Sr.ª Presidente, Sr. Deputado António Filipe, concordo em absoluto com as considerações que fez e com a indignação que manifestou a propósito das chantagens e da pressão recorrente que o Governo tem feito sobre o Tribunal Constitucional.
Sr. Deputado, de facto, é motivo de indignação que o Governo tenha absoluta consciência que aquilo que está a propor é contrário àquilo que a Constituição da República Portuguesa determina, porque se o Governo não sentisse que aquilo que está a fazer contraria princípios constitucionais nem sequer poria a hipótese de algumas normas poderem ser declaradas inconstitucionais. Portanto, pelo menos, o Governo sabe que roça essa fronteira relativamente às propostas que são anunciadas.
Isso é absolutamente inadmissível, Sr. Deputado, porque a primeira coisa que um Governo deveria fazer era justamente ter como baliza, como princípio orientador, a lei mãe do nosso Estado democrático, que é a Constituição da República Portuguesa.
Mas aquilo que o Governo permanentemente procura fazer é ver como é que consegue «passar a perna» ao texto constitucional. E porque o texto constitucional também é determinante para a vida concreta das pessoas isto repercute-se sobre a vida concreta das pessoas e das famílias!
Sr. Deputado, consideramos inadmissível esta atitude do Governo, recordando que nunca este Governo apresentou um Orçamento do Estado que não tivesse normas declaradas inconstitucionais.
Portanto, há uma permanente afronta. É, de facto, como o Sr. Deputado disse, procurar um livre arbítrio, um à-vontade sem limites, sem qualquer fronteira, que destruiria completamente a nossa lógica de Estado democrático.
Sr.ª Deputada Mariana Aiveca, concordo com as considerações que fez e quero dizer o seguinte: uma política de baixos salários retira dignidade a um povo. E mais: não retira só dignidade, retira capacidade (fundamentalmente, num país com as nossas caraterísticas e no estado em que nos encontramos) de redinamização ou de dinamização do País.
Quando somos confrontados com um Orçamento do Estado que rouba — não tem outro nome, Sr.ª Deputada — poder de compra, ainda mais poder de compra, à população portuguesa, significa que aquilo que o Governo está a propor é que se arrede a generalidade dos portugueses para o lado no que se refere a um objetivo que deveria ser determinante para o País, que é a redinamização da nossa economia!
Portanto, esta estratégia vai dar mau resultado. O Orçamento do Estado proposto para 2014 é absolutamente recessivo e delapidador do mercado interno.
O Governo, agora, finge que quer reforçar o mercado interno. Não quer, não é esse o seu objetivo! O que o Governo vai fazer com este Orçamento é estrangular ainda mais o mercado interno. E isto, Sr.ª Deputada, são más notícias, muito más notícias para o País.
Voltar