| Intervenção do Deputado José Luís Ferreira-      Assembleia da República, 3 de Agosto de 2011     Sr. Presidente, Sr. Ministro de Estado e das Finanças, o Governo propõe-se        acabar com os direitos especiais do Estado em empresas a privatizar, mas,        Sr. Ministro, há quem diga que o Governo não está a vender os direitos        especiais que o Estado detém sobre diversas empresas, há quem diga que        aquilo que o Governo está a fazer é a oferecer, aos accionistas privados,        direitos que valem centenas de milhões de euros, mas nós não acreditamos,        até porque o pretexto do Governo, com esta operação, é a dívida e o        défice.Sendo assim, pergunto, com toda a objectividade: quantos milhões de euros        espera o Governo arrecadar com o fim dos direitos especiais que detém na        EDP, na Galp e na PT, e não estamos a falar de milhões da treta, estamos a        falar de milhões a sério, Sr. Ministro?! Quantos milhões espera o Governo        vir a arrecadar com esta operação?
 Depois, Sr. Ministro, o Governo está, mais uma vez, a transferir riqueza        para os grupos económicos e, ao mesmo tempo, procede a um verdadeiro saque        aos que menos têm: metade do 13.º mês, a quem trabalha e aos pensionistas,        já lá vai, deixando de fora os titulares de rendimentos de capital;        aumento das taxas moderadoras, dos medicamentos, da água, da        electricidade; aumento dos preços dos transportes públicos, empurrando as        pessoas para a utilização da viatura particular, agravando, assim, a nossa        factura energética e contribuindo, desta forma, para agravar o défice.
 Tudo isto sucede ao mesmo tempo que o Governo dá apoios fabulosos à banca,        seja para a sua recapitalização, seja para tapar os erros e a gestão        fraudulenta, como mostra o caso do BPN.
 Agora, o Governo prepara-se para avançar com uma «onda» de privatizações        de sectores estratégicos para o País e a sua total abertura ao capital        estrangeiro.
 Há duas ou três semanas atrás, o Sr. Ministro de Estado e das Finanças        realizou uma conferência de imprensa para detalhar o corte de 50% do        subsídio de Natal que foi imposto à generalidade dos portugueses. Nessa        mesma conferência de imprensa, o Sr. Ministro fez uma abordagem de        anúncios de privatizações e incluiu, no sector das infra-estruturas, a        Águas de Portugal. Ora, segundo percebemos, o Governo anunciou, assim, a        privatização da Águas de Portugal, ao contrário do que consta do Programa        do Governo e sem que esse facto tenha sido referido nas respostas que o        Sr. Ministro de Estado e das Finanças e até o Sr. Primeiro-Ministro deram,        aquando da discussão do Programa do Governo, a questões que Os Verdes        colocaram, exactamente sobre a privatização do sector da água.
 Ora, para além do que representa o conjunto de privatizações que o Governo        pretende levar por diante, importa referir, ainda assim, que o sector da        água se destaca dos demais pela vitalidade do bem que está em causa.        Estamos a falar de um bem que é essencial à vida e que não pode ser gerido        em função de critérios de lucro e de distribuição de dividendos por        accionistas mas, sim, numa lógica de necessidade das populações, dado que        se trata, ainda por cima, de um bem escasso.
 Casos mundialmente conhecidos de privatização do sector da água demonstram        que a gestão privada da água tem potencial para gerar privações muito        complicadas e condicionalismos muito preocupantes.
 Portanto, Sr. Ministro, quero perguntar-lhe o seguinte: pode especificar e        detalhar o que se deve entender, exactamente, por privatização da Águas de        Portugal?
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