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Início - Grupo Parlamentar - XII Legislatura - 2011/2015 - Intervenções na Ar (Escritas)
 
Intervenções na Ar (Escritas)
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12/04/2012
Referendo sobre o Pacto Orçamental
Sr.ª Presidente,
Sr. Primeiro-Ministro,
Srs. Membros do Governo,
Sr.as e Srs. Deputados:
 
Os portugueses têm motivos de sobra para estarem preocupados com o caminho que a União Europeia está a seguir. É um caminho que está a tornar a Europa cada vez menos democrática, com a Alemanha e a França a decidirem o destino de todos os povos da Europa, sendo os restantes Estados-membros remetidos para um papel completamente passivo, limitando-se a aceitar as decisões desse diretório.
Mas para além do profundo défice democrático, ainda temos este modelo neoliberal que atualmente está a dominar a União Europeia e que está a colocar os países em dificuldade, completamente dependentes ou mesmo reféns dos mercados.
A esta situação não é certamente alheio o facto de o Banco Central Europeu não poder financiar os seus contribuintes, que são os Estados-membros.
 
Nesta circunstância, o que o Banco Central Europeu faz é emprestar dinheiro aos grandes bancos privados a uma taxa de juro baixa para, depois, estes bancos emprestarem esse mesmo dinheiro aos Estados que precisam, mas a taxas de juro muito mais altas.
Neste contexto, Os Verdes consideram que aquilo que seria prioritário e deveria ser o centro das atenções dos responsáveis europeus, era exatamente remover a proibição relativa ao Banco Central Europeu para que ele pudesse financiar diretamente os Estados-membros e expurgar, assim, do circuito estes bancos intermediários, que arrecadam milhões e milhões de euros, suportados pelos Estados. Mas não, ao invés disso, os senhores da Europa pretendem consagrar o pacto orçamental. Ao invés de procurarem soluções para que os conceitos de coesão e de solidariedade começassem a fazer parte do vocabulário da União Europeia, os senhores da Europa pretendem controlar totalmente a política económica dos Estados-membros.
 
Ao exigir-se a inscrição dos limites de défice orçamental significa que, em caso de incumprimento por parte dos Estados, há lugar à imposição de medidas determinadas pela Comissão Europeia. Esta subordinação determina a imposição de «programas de reformas estruturais», que podem passar pelas leis laborais, pelos salários, pelas reformas e pensões, pelos serviços públicos, pela segurança social, e por aí fora, e — pasme-se! — até há lugar à aplicação de sanções financeiras. Ou seja, os países que estão em dificuldade, em vez de serem ajudados pela União Europeia, ainda vão sofrer sanções financeiras, o que certamente irá agravar ainda mais a situação desses países. É o abandono definitivo da solidariedade e da coesão enquanto premissas da União Europeia.
Mais: a transferência de soberania para a cada vez menos democrática União Europeia vai condicionar o nosso Parlamento na definição das políticas sociais, económicas e orçamentais, arredando, assim, os portugueses das decisões que mais importância revestem para as suas vidas. É uma facada na democracia sem precedentes. As matérias orçamentais constituem a questão-chave de qualquer povo em termos de soberania.
Este Tratado vai trazer também mais austeridade, quando é mais que sabido que a austeridade não é solução, como, de resto, se está a ver hoje.
 
O agravamento das previsões da Comissão Europeia é a confirmação de que as medidas de austeridade não funcionam, pelo contrário, têm até um efeito recessivo sobre a economia, o que pode tornar a ajuda externa um problema recorrente.
Neste contexto, Os Verdes consideram que o que está em causa com este Tratado é sério de mais para não ouvir os portugueses. Os portugueses foram sempre arredados de se pronunciarem diretamente sobre o futuro da União Europeia, que, ainda por cima, de tratado em tratado, tem esvaziado soberania nacional, concentrando poderes noutros níveis de decisão, muito, mas muito longe dos portugueses — um verdadeiro poder sem rosto.
 
A verdade é que se torna cada vez mais difícil justificar a razão pela qual os portugueses não são chamados a pronunciarem-se por via de um referendo. Aliás, esta dificuldade já levou, no passado, o PS e o PSD a formarem algumas farsas de vontade de realização de referendo, logo contribuindo, contudo, para a sua inviabilização.
Hoje, um referendo nesta matéria apresenta várias virtudes, que certamente enriqueceriam a nossa democracia, entre as quais destacamos a possibilidade de um amplo debate de esclarecimento sobre o conteúdo dos Tratados, bem como o reforço da capacidade de decisão concreta sobre a vinculação, ou não, do Estado a determinadas regras neles impostas.
 
Os Verdes consideram, assim, que é tempo de materializar essa consulta, e, por isso, propõem que seja convocado um referendo sobre o Tratado de Estabilidade, Coordenação e Governação na União Económica e Monetária. Concorda com a aprovação do Tratado sobre Estabilidade, Coordenação e Governação na União Económica e Monetária? É isto, e apenas isto, que Os Verdes propõem que se pergunte aos portugueses.
Não tenhamos medo do que acham os portugueses, do que sentem, da avaliação que fazem do processo europeu. Vamos ouvir os portugueses, não vamos transformá-los numa carta fora do baralho. Vamos ouvi-los!
 
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