"Cavaco Silva vem dizer que os portugueses estão profundamente compreensivos relativamente à situação atual e às medidas que têm sido tomadas, mas o senhor Presidente da República anda distraído. O povo português está profundamente descontente e tem demonstrado esse profundo descontentamento", disse a deputada Heloísa Apolónia, em declarações aos jornalistas, depois de o Chefe de Estado ter discursado no Parlamento, na cerimónia oficial que assinalou o 25 de Abril de 1974.

Para Heloísa Apolónia, o discurso de Cavaco Silva foi "desconexo da realidade": "Ao Presidente da República compete também aperceber-se e dar conta daquela que é a verdadeira realidade do país e ela é extraordinariamente difícil. E pior, é que o próprio FMI tem previsões que determinam que nos próximos largos anos isto venha a piorar ainda muito mais e que a sustentabilidade de facto deste país seque", afirmou.

"Ora, um Presidente da República que não tem uma palavra para esta situação, para alterar esta situação, é um Presidente da República que não perspetiva um futuro diferente para o país e o povo português está a reclamar um futuro diferente, um futuro com os valores de Abril, porque Abril abriu-nos sonhos e esperança e é disso que nós precisamos neste país", acrescentou.

A deputada ecologista referiu ainda que Cavaco Silva "falou da necessidade de credibilização externa do país", mas que os Verdes "perguntam como é que um país se credibiliza até externamente quando está a empobrecer a olhos vistos".

"Estamos num processo progressivo de empobrecimento face as políticas que têm sido seguidas e com as quais Cavaco Silva tem sido conivente", considerou.

Sobre a ausência da Associação 25 de Abril, do ex-Presidente da República Mário Soares e do histórico socialista Manuel Alegre na sessão de hoje do Parlamento, Heloísa Apolónia considerou que "as pessoas fizeram as opções que tinham a fazer", sublinhando que "a opção dos Verdes foi vir à sessão do 25 de Abril, como não podia deixar de ser".

"Porque esta sessão na Assembleia da República, nesta casa plural, é extraordinariamente importante e relevante e é aqui também que se diz aquilo que é preciso ser dito e a quem é preciso ser dito", afirmou.

Questionada se a cerimónia perdeu com aquelas ausências, Heloísa Apolónia respondeu: "A cerimónia fez-se com verdade por parte daqueles que disseram verdade e isso é extraordinariamente importante".