Pesquisa avançada
Início - Comunicados - Comunicados 2004
 
 
Comunicados 2004
Partilhar

|

Imprimir página
25/04/2004
Apelo 25 Abril

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

COMEMORAÇÕES POPULARES DO 25 DEABRIL DE 2004 APELO À PARTICIPAÇÃO
DESFILE - M. Pombal-Rossio 15.H

A revolução do 25 de Abril celebra trinta anos. Trinta anos de liberdade que foram o períodomais estável que o país viveu em democracia Institucionalizada. Os que nasceram naquela data,ou os que na altura ainda eram crianças, são hoje homens e mulheres na plenitude da suaexistência. Não conheceram, por conseguinte, a ditadura, os malefícios da servidão e do exílio,nem as prisões arbitrárias, o lápis censório e o subdesenvolvimento cultural e social generalizado.

Tudo o que sabem a respeito dessa época Ihes chegou relatado, de forma Indirecta, pelos maisvelhos, ou através da informação que recolheram, sempre em segunda mão. Importa, por Isso, queos valores de Abril Ihes sejam apresentados e transmitidos com fidelidade, para que, não obstanteas eventuais provações do presente, confiem em que haverá sempre oportunidades redentoras ajustificar um continuado empenhamento no futuro do país. Independentemente dosdistanciamentos geracionais e das diferenças de mentalidade. Importa reconhecer que o melhor dajuventude estudantil e trabalhadora nunca se recusou a participar mas principais lutas em prol dosInteresses colectivos. Se hoje o seu modo de reagir perante as vicissitudes da política, nemsempre se assemelha à resposta dos que conheceram directamente o fascismo, a assimilação dosistema democrático tornou-se, em contrapartida, para os mais novos, tão natural como o ar querespiram. Esta não será, por conseguinte, a par da descolonização, urna das menores aquisiçõesdo 25 de Abril.

A rotina democrática tende, no entanto, a provocar, em numerosos cidadãos, um certodistanciamento das questões políticas, fazendo com que os movimentos de maior amplitude queocorrem na vida colectiva do país escapem, por vezes, à sua percepção ¡mediata. Nos últimostrinta anos Portugal mudou e a realidade de hoje não tem comparação com a do passado. Ademocracia frutificou, e em quase todos os domínios, o progresso alcançado relativamente a 1974foi espectacular. Mas apesar disso, existe paralelamente um clima bastante generalizado deinsatisfação, pela consciência de que se ficou, não apenas, aquém do desejável, mas sobretudo,longe do que teria sido possível atingir. Na dialéctica entre fluxos e refluxos do progresso, entreavances e recuos sociais, alguns dos patamares que se julgaram adquiridos foram entretantodestrocados, mormente nos últimos anos em que a direita conquistou o poder. Contribuiu para issoa debilidade do país, mal apetrechado para resistir as crises da conjuntura económica europeia, esobretudo a complacência dos seus dirigentes perante os modelos de exploração neo-liberal que,no fundo, reacordavam e iam ao encontro de urna antiga tradição do capitalismo português.

Os arquétipos económicos de urna produção assente em baixos salários e em tecnologiasultrapassadas encontraram apoio e enquadramento político em esquemas proto--ideológicosabusivamente retirados das noções de competitividade, de modernidade; da suposta excelência doprivado sobre o público, da libertação da sociedade civil, do menos Estado, melhor Estado e outrasretóricas do género, repetidas, interpretadas, e distorcidas até à náusea, de molde a preparar osespíritos para a boa nova da perda ou restrição de direitos já adquiridos, tanto no plano cívico esocial, como nos domínios da cultura e do ambiente. A produção legislativa já aprovada ou emgestação, designadamente no âmbito do direito do trabalho, dos serviços e funções sociais doEstado, propende nesse sentido. Sobre a cabeça dos cidadãos está suspensa, e cada vez maisameaçadora, a espada de Damócles da precaridade, com o aumento da fome e da pobreza, com oinerente risco de despedimentos expeditos a remeterem para a inactividade sem perspectivas epara o aumento dramático do desemprego; do acesso economicamente restritivo aos últimos grausde ensino; e do progressivo esvaziamento da Segurança Social e do Serviço Nacional de Saúde.

Estamos melhor que em Abril de 1974? Estamos! Mas, no contexto da história desde entãopercorrida, caímos agora numa maré baixa que se arrasta penosamente. Vai dar muito trabalhoconcertar o mal feito, mas a democracia possui um considerável poder regenerativo. A ideia de queo regime democrático está a ser objecto de urna deriva que procura reduzi-lo a um formalismogerador de autoritarismos, é cada vez mais pressentida por todos os que prezam a liberdade,tenham ou não conhecido na pele a ditadura.

Reabilitar, por conseguinte, as instituições da democracia; assegurar que o Parlamentocontrola de facto o Governo e não o inverso; prover os Tribunais com melhores condições defuncionamento; velar para que o princípio do interesse público se sobreponha sempre ao dointeresse privado; pautar a política estrangeira pela estrita autonomia e não subordinação asconveniências dos outros; participar activamente no aprofundamento da construção europeia, comrealce para a coesão e convergência social dos países que a integram; combater firmemente oterrorismo em qualquer dos seus planos, sem para isso, cercear os direitos fundamentais doscidadãos; não dar tréguas tanto ao racismo como à xenofobia, à intolerância religiosa ouideológica; todo este conjunto de objectivos será razão bastante para que, trinta anos após arevolução dos cravos, aqueles que não descrêem duma sociedade mais solidária e mais justa,aqueles que amam verdadeiramente a paz, se devam integrar nas celebrações populares do 25 deAbril, e assim colectivamente afirmarem a sua vontade de nunca baixar os braços. A todos seapela a que, por civismo e por homenagem ao Movimento das Forcas Armadas, que deverá esteano ser especialmente evocado, participem nas diversas manifestações previstas, as quais emLisboa, como habitualmente, terão o seu auge, a partir das 15 horas, no desfile entre a Praça doMarquês de Pombal e o Rossio.

 


 

Voltar