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07/12/2016 |
Debate preparatório do próximo Conselho Europeu (DAR-I-27/2ª) |
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Intervenção da Deputada Heloísa Apolónia - Assembleia da República, 7 de dezembro de 2016
Sr. Presidente, Sr. Primeiro-Ministro: Utilizou, na intervenção inicial, uma frase que, acho, caracteriza muito bem o que se vai passando pela Europa: «Temos o dever de resistir». É nessa fase da resistência que a Europa já se encontra eventualmente, mas, Sr. Primeiro-Ministro, talvez fosse importante que esta forma de resistir — é assim que lhe chama — começasse a ser feita de outra maneira, ou seja, deitando um olhar sobre os interesses dos povos. Aquilo que já começa a tornar-se verdadeiramente unânime — isso é tão evidente — é o facto de as políticas europeias não irem ao encontro dos interesses e das necessidades dos povos. E já têm sido tantos, mas tantos, os sinais — os referendos em França, na Irlanda, as respostas que foram dadas no Reino Unido, em Itália… Sr. Primeiro-Ministro, os sinais de desagrado dos povos são imensíssimos.
Por exemplo, aquilo que se fez relativamente ao CETA (Comprehensive Economic and Trade Agreement) e ao TTIP (Transatlantic Trade and Investment Partnership) — que foi suspender processos porque, como havia eleições, havia que salvaguardar resultados eleitorais e porque sabiam que os povos estavam contra estes acordos — é de uma profundíssima hipocrisia e demonstra, efetivamente, que há interesses que quase já se tornam antagónicos, que são os interesses das elites e os interesses dos povos. E quando esses interesses não correspondem minimamente, acho que há uma degradação que é natural, evidente e até inevitável.
Ora, este processo não é de agora, não apareceu subitamente e é por isso que Os Verdes entendem que é preciso repensar este modelo da União Europeia. Se o Conselho Europeu, os outros organismos e as elites na União Europeia não pensam ou repensam um novo modelo, sinceramente, não sei onde isto vai parar, porque, enquanto andamos a discutir orçamentos para a defesa, deveríamos andar a discutir orçamentos para os povos, a saber, justamente um dos pontos que o Conselho Europeu vai debater, que é a questão da juventude.
Se não percebermos que se não tornarmos robustas as pequenas economias e se estivermos, única e exclusivamente, a olhar para os interesses das grandes economias, como a da Alemanha, a da França e outras, e a descurar os interesses das pequenas economias, como a de Portugal, é o futuro que estamos a pôr em causa, é a juventude que estamos a pôr em causa.
Por isso, em Portugal, temos o dever de dizer que renegociar a nossa dívida é uma obrigação. A juventude não consegue pagar 8000 milhões de euros anualmente.