Num país em que os riscos de pobreza aumentam preocupantemente, estando Portugal colocado entre os países com maior índice de pobres da União Europeia, foi confrangedor ouvir ontem o Ministro das Finanças pronunciar-se sobre a situação do país sem dirigir uma palavra nem atenção para este problema dramático.

Muito pelo contrário, o Ministro Bagão Félix ignorou a realidade que se vive em Portugal e mais uma vez demonstrou que a orientação do Governo é olhar mais aos números do que às pessoas.

O que o Ministro veio dizer é que afinal é preciso continuar a apertar bem o cinto e que o Estado não tem capacidade para pagar aquilo que a Constituição o obriga a garantir e que por isso transferirá esses pagamentos para as famílias, seja na área da educação, da saúde ou dos transportes.

Sob a capa da justiça social o que o Governo faz é promover mais pobreza e mais dificuldade no acesso a serviços fundamentais, degradando os serviços públicos e pedindo sempre mais esforço às classes cada vez mais desfavorecidas e deixar à vontade aqueles que conseguem não declarar a totalidade dos seus rendimentos e aqueles que escandalosamente fogem ao fisco aos olhos do Estado, como na zona franca da Madeira (se o Estado garantisse seriamente o combate à evasão e à fraude fiscal conseguiria arrecadar mais receitas para o estado).

Sob a capa do princípio do utilizador pagador, o que o Governo faz é abdicar totalmente do princípio da solidariedade e pôr as famílias a pagar aquilo que já pagam através dos seus impostos.

O Ministro das Finanças provou ontem que o Governo está a gerir muito mal os destinos de Portugal, porque para um Governo que prometeu desafogo às famílias a partir de 2005, aquilo que vem anunciar afinal é mais e mais sacrifícios.

O Gabinete de Imprensa
Lisboa, 14 de Setembro de 2004