O Dia Sem Carros ou o País sem Mobilidade?
Com o culminar da Semana Europeia da Mobilidade, com o Dia Europeu sem Carros que hoje se assinala, importa fazer uma profunda reflexão sobre causas que levam a uma utilização maciça do automóvel e seus impactes no ambiente urbano e global. Uma reflexão que importa fazer também sobre as alternativas disponíveis e o investimento que se tem feito em transportes públicos e em infra-estruturas de apoio em Portugal.
O ordenamento do território, o estabelecimento de actividades económicas e o contínuo aumento da concentração populacional que se verifica nos grandes centros urbanos, nomeadamente em Lisboa no e Porto, têm um papel determinante nos fluxos de pessoas e no agravamento dos problemas de mobilidade.
Mas mais, “Os Verdes” entendem realçar a importância fulcral na falta de condições verdadeiramente alternativas como estímulo à utilização do transporte público e somos por isso fortemente críticos à postura do Ministério do Ambiente e à do Governo que entende o dia de hoje como mero instrumento de apelo aos cidadãos para reduzirem a utilização do automóvel.
Para além de uma rede deficitária de transportes públicos com problemas de falta de regularidade e rapidez dos serviços prestados, pouco conforto, insegurança, deparamo-nos com supressão de carreiras, reduções de horários disponibilizados, frotas envelhecidas, vias ferroviárias em mau estado de conservação, supressão de comboios, aumentos excessivos nos preços praticados e uma organização do espaço urbano feito em função do automóvel...
Factores que cumulativamente tornam cada vez menos interessante a opção transporte público.
Como consequências assistimos às infindáveis filas de trânsito que diariamente preenchem os acessos rodoviários, ao stress provocado pelo caos, à degradação da qualidade do ar urbano e consequente agressão à saúde das pessoas.
Assistimos a um país da União Europeia que mais aumentou os níveis de emissões de gases provenientes do sector dos transportes, sendo o sector dos transportes um dos que mais contribui para o aumento de gases com efeito de estufa na atmosfera e consequentemente para o aumento da alterações climáticas.
Perante este cenário “Os Verdes” reclamam uma eficaz política de investimento em transportes públicos de qualidade, que atenda às necessidades reais e que sirva de estímulo ao progressivo abandono do automóvel como meio de transporte o que implica:
Um serviço de transportes públicos confortável, com frequência regular e ajustado às necessidades dos cidadãos, e melhoria das infra-estruturas existentes, assim como uma boa gestão das "interfaces" entre diferentes meios de transporte;
-
Percursos rápidos, tarifas socialmente justas e títulos de transporte práticos e flexíveis, a manutenção do “passe social” e alargando a sua circunscrição à Área Metropolitana do Porto;
-
Uma gestão de qualidade, eficaz e transparente, com responsabilidades bem definidas entre os operadores de transporte público e os diferentes órgãos administrativos e a criação e operacionalização das Autoridades Metropolitanas de Transportes;;
-
Expansão do Metropolitano de Lisboa, da criação de sistemas de metropolitano ligeiro de superfície nas Áreas Metropolitanas de Lisboa e do Porto e na cidade Coimbra e arredores, entre outros;
-
A sensibilização das populações para a necessidade de alteração dos comportamentos no que respeita aos hábitos da mobilidade, mediante a promoção de campanhas de informação ao público focando os problemas ambientais e sociais causados pelo excessiva utilização do transporte rodoviário individual de passageiros e apresentando as alternativas possíveis.
«Os Verdes» defendem ainda:
-
O investimento no transporte ferroviário, quer de passageiros quer de mercadorias, constitua uma prioridade nacional;
-
A implementação de uma rede nacional de ciclovias;
-
O fim das barreiras arquitectónicas e a adaptação dos transportes às pessoas com mobilidade reduzida.
O Gabinete de Imprensa
Lisboa, 22 de Setembro de 2003