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06/08/2003 |
Fogos Florestais |
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INCÊNDIOS FLORESTAIS O rastilho previsível
"Os Verdes" querem, em primeiro lugar, manifestar a sua tristeza e solidariedade a todas as populações atingidas por este drama e valorizar a luta corajosa travada por milhares de pessoas no combate aos incêndios: bombeiros, guardas da natureza, populares, autarcas e outros.
"Os Verdes" comprometem-se, desde já, a desenvolver todos os esforços na Assembleia da República, e não só, para que os danos provocados pelos incêndios sejam devidamente avaliados e o mais possível minimizados. Exigiremos, ainda, que seja reponderada a política florestal portuguesa, para que no futuro esta situação calamitosa não se volte a repetir.
E sendo que a situação de flagelo que afecta o país ainda não se pode dar por controlada, visto as condições climatéricas propícias continuarem a fazer-se sentir, "Os Verdes" consideram fundamental que sejam, accionados mais meios de vigilância e de combate aos incêndios. Não se compreende a resistência do Governo em accionar o Plano Nacional de Emergência. Será que teremos de aguardar que todos os distritos estejam em chamas para tal? Não se compreende as poucas forças e os reduzidos meios militares disponibilizados para vigiar as áreas florestadas, ajudar os bombeiros no terreno e apoiar as populações afectadas. Ou será que o Governo prefere combater armas de destruição massiva fictícias e não as bem reais como esta que vai consumindo o país? Será que não estamos perante uma questão de defesa nacional?
"Os Verdes" consideram que as medidas anunciadas pelo Conselho de Ministros, na sequência da declaração de calamidade pública, traduzem uma visão minimalista e redutora dos dramas sociais criados e dos estragos provocados e ficam muito aquém das necessidades. Gostaríamos que o Sr. Primeiro-Ministro nos dissesse, quanto tempo vão sobreviver as famílias que perderam as suas fontes de rendimento com "um subsídio de sobrevivência imediata, de prestação única, no valor equivalente a um salário mínimo nacional por cada elemento do agregado familiar"?
"Os Verdes" não podem ainda deixar de manifestar, hoje aqui, o profundo sentimento de revolta que sentem perante o que está a acontecer e que poderia ter sido evitado
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Consideramos que este era um cenário previsível. O facto das condições climatéricas serem um factor propício para os incêndios florestais, num país como o nosso, não é um dado novo, e por isso mesmo mais fácil de prever. A realidade é que se foi descorando, ao longo dos anos, a prevenção. Não se adaptaram os meios para fazer face às novas realidades da sociedade portuguesa, isto é, à desertificação sempre mais acentuada do mundo rural, às pressões de interesses económicas diversos, às novas formas de criminalidade. Bem pelo contrário, com este Governo a prevenção ainda ficou mais fragilizada com os cortes orçamentais e as reestruturações economicistas dos serviços, o que se reflectiu nos meios de vigilância disponíveis, nas limpezas das matas, etc. Mas esta situação tem ainda na sua origem outra causa sempre escamoteada pelos sucessivos governos, a política florestal portuguesa, seguida ao longo destes últimos 20 anos e que constitui, ela própria, um rastilho, que contribuiu sem dúvida em muito para atear este drama.
Uma visão meramente economicista da floresta que tem incentivado a plantação intensiva e extensiva de eucaliptos e de resinosas,
levou a uma mudança completa do panorama florestal português e à sua capacidade de autodefesa perante os incêndios, contribuiu para uma maior desertificação e isolamento das povoações rurais e alterou completamente a relação do Homem com a Floresta.
Por ser um momento dramático, este não deve deixar de ser um momento de reflexão, uma oportunidade para das cinzas fazer renascer uma floresta diversificada, de uso múltiplo, que seja uma mais valia ecológica e um factor de desenvolvimento regional e nacional.
Para "Os Verdes", os incêndios florestais não podem ser uma oportunidade de agenda política, consoante se está no poder ou na oposição e, como já afirmámos, o drama agora vivido no nosso país tem origem em políticas florestais promovidas pelos sucessivos governos. Resta-nos a esperança que as dimensões aterradoras que a situação tomou, leve os actuais governantes a adoptar medidas de fundo. Pela parte de "Os Verdes", não cessaremos de as reclamar, como aliás o fizemos logo que este governo iniciou o seu mandato.
Relembramos que ainda há um ano atrás, aquando do Conselho de Ministros em Tomar, alertámos o Governo (oferecendo um Álbum Negro da Floresta Portuguesa) para a urgência das medidas a tomar, para que ano após ano, as áreas florestadas deste país não fossem pasto para chamas, pondo em perigo diversidade natural, pessoas e bens, para que fosse promovida uma verdadeira política sustentável da floresta portuguesa a que melhor protege a floresta e as populações dos incêndios florestais.
O Gabinete de Imprensa
Lisboa, 6 de Agosto de 2003