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27/02/2019 |
Os Verdes defendem a preservação da Quinta do Braamcamp na esfera pública |
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Recentes afirmações do presidente da Câmara Municipal do Barreiro, em entrevistas, em sessões de câmara e em declarações públicas de um seu vereador eleito pelo Partido Socialista, dão a conhecer a intenção e a concordância em vender a Quinta do Braamcamp no Concelho do Barreiro, como um todo, entregando-a novamente a interesses privados.
Recorde-se que a Quinta do Braamcamp foi adquirida pela autarquia de maioria CDU no final do mandato anterior, após alguns anos de negociação com a banca, credora da empresa corticeira que operou na Quinta durante várias décadas, mas que no final da década passada ficou insolvente, deixando a propriedade ao abandono.
A Quinta do Braamcamp é um espaço único, na área metropolitana de Lisboa. São mais de 20 hectares, encostados e com acesso direto ao Tejo, torneados de rio, com um grande moinho de maré e uma “caldeira” que lhe fornece a força motriz da refrega de outros tempos. É um espaço que se projeta sobre o rio, recorta a paisagem do Barreiro, propõe sistematicamente novas vistas sobre a área metropolitana, sobre Lisboa. Promove vistas a partir do Barreiro, produz vistas do Barreiro. É um espaço antropogénico de memoria e património, gente e cultura.
Tem ainda nos dias de hoje, capacidade construtiva para quase 200 habitações conferidas pelo desatualizado plano diretor municipal, razão pela qual foi adquirida pelo município com o objetivo de não ser apropriada pela especulação imobiliária.
É um espaço único cujo destino não pode ser determinado sem uma ampla reflexão e ponderação, com uma profunda participação dos barreirenses. A amplitude temporal da sua importância é multigeracional, pelo que os modelos de desenvolvimento que hoje sejam equacionados podem estar profundamente desenquadrados no futuro. A Quinta do Braamcamp é sobretudo das gerações futuras e dos desafios das cidades do futuro, desafios que não têm de valorizar o que hoje alguns de nós valorizam, devendo ser preservada das alterações que a fustigarão fruto das alterações climáticas e da erosão ribeirinha.
Aliás, a aquisição da Quinta do Braamcamp foi aprovada por unanimidade por todos os partidos com assento no executivo da Câmara Municipal e na Assembleia Municipal de então (mandato 2013-2017), no pressuposto que “(…) possui um potencial inigualável a diversos níveis: a) permitindo a abertura de 21ha de frente de rio à fruição da comunidade; b) representando a disponibilização pública de um espaço do qual existe memória coletiva de fruição; c) possuindo manifesto interesse histórico/arqueológico e turístico; d) reforçando uma estratégia de valorização dos desportos náuticos; e) retirando-o do mercado imobiliário e afirmando um discurso e uma estratégia de fruição pública, generalizada, duma zona privilegiada do concelho; f) permitindo avaliar a abertura da Escola Alfredo da Silva ao território envolvente (…)”.
É no mínimo uma contradição insanável o facto de, sem a existência de razões atendíveis / plausíveis de carater formal, os órgãos autárquicos que aprovaram comprar a Quinta no anterior mandato, a possam estar a considerar vender em 2019, quando uma das premissas aprovada para a aquisição foi a de retirar aquele ativo patrimonial, ecológico e paisagístico do “mercado imobiliário”.
É por isso absolutamente indispensável, que se rejeite liminarmente e sem quaisquer condições, a venda da Quinta do Braamcamp, deixando que o futuro daquele espaço possa ser determinado pelos barreirenses, mesmo que a verba ou as promessas de utilização pública que venham a ser geradas possam parecer tentadoras, mas que têm sempre prazos e/ou condições para vigorar, respondendo, não nos enganemos, aos interesses dos eventuais compradores.
O Partido Ecologista Os Verdes reitera a necessidade da preservação da Quinta do Braamcamp na esfera pública, porque apenas dessa forma é possível perpetuar a sua importância ecológica e patrimonial, reconhecida pela classificação de SíTIO DE INTERESSE MUNICIPAL - Alburrica e do Mexilhoeiro e seu Património Moageiro, ambiental e Paisagístico por deliberação de câmara, também unanime, em 7 de Julho de 2017.
Apenas com a municipalização conseguida através da sua aquisição, consideramos que aquele território desempenhará o propósito de servir, apenas, as populações e o desenvolvimento do Barreiro, e não os interesses económicos que orbitam nas oportunidades imobiliárias, normalmente pouco conciliadoras dos verdadeiros interesses do território, aliás como a história recente do país demonstra.