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11/01/2017 |
Sobre o voto n.º 194/XIII (2.ª) — De pesar pelo falecimento de Mário Soares (DAR-I-36/2ª) |
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Sr. Presidente da Assembleia da Assembleia da República, Sr.as e Srs. Membros do Governo, Sr.as e Srs. Deputados, Sr. Deputado João Soares e restantes familiares do Dr. Mário Soares: Evocamos hoje, em sessão plenária, o Dr. Mário Soares e as primeiras palavras que o Partido Ecologista «Os Verdes» pretende deixar nesta ocasião têm como propósito expressar as mais sinceras condolências, particularmente à família do Dr. Mário Soares e ao Partido Socialista.
A morte, a única agressão que nem mesmo os homens que ajudam a construir a nossa História conseguem vencer, não tem hora marcada, mas chega, chega sempre! Sempre, inevitável e irremediavelmente! É esta a condição humana.
E ainda que este desfecho fosse relativamente previsível, face ao estado de saúde do Dr. Mário Soares nas últimas semanas, ainda assim nunca essa hora é oportuna e não é também por isso que a dor, sobretudo dos seus familiares, fica mais leve.
A perda de uma pessoa próxima é sempre terrível, muito dolorosa, de uma dor absolutamente inacreditável, porque nós, humanos, não estamos preparados ou não estamos dotados para enfrentar com naturalidade a ameaça que a morte representa.
Por isso mesmo, importa, antes de mais, expressar o mais sentido respeito pelo sentimento de perda, desde logo dos seus familiares e amigos mais próximos, mas também de todos quantos sentem a sua morte como uma perda pessoal ou coletiva.
Sr. Presidente, Sr.as e Srs. Deputados: Nos últimos dias, os jornais, as rádios e as televisões têm promovido debates, conversas, produzido e difundido reportagens e recolhido depoimentos de pessoas conhecidas e de pessoas anónimas sobre o Dr. Mário Soares.
Ouvimos e vimos, ao longo dos últimos dias, depoimentos de natureza mais pessoal, carregados de emoção e outros, como, aliás, não podia deixar de ser, sobre o homem político que indiscutivelmente foi o Dr. Mário Soares. E de todo este acervo de reportagens, debates, testemunhos ou depoimentos, concorde-se ou discorde-se das posições assumidas pelo Dr. Mário Soares ao longo de uma vida de intervenção política, o que fica e que nos parece consensual é que estamos a falar de um homem que marcou incontornavelmente a História do nosso País.
Marcou a História do nosso País, não só pelos relevantes cargos que exerceu depois da Revolução dos Cravos, como também pelo seu contributo na luta contra o regime fascista. Uma ditadura que amarrou o País, durante quase meio seculo, à fatídica pobreza e ao analfabetismo, que impôs o silêncio à livre expressão e opinião e que alimentou uma guerra desprovida de qualquer sentido — a Guerra Colonial.
Como é referido no voto de pesar, apresentado pelo Sr. Presidente e pela Mesa da Assembleia da República, ao qual o Grupo Parlamentar do Partido Ecologista «Os Verdes» também se associa, «Mário Soares abraçou desde cedo a política como vocação». E, de facto, assim foi. A sua vida desde cedo se confundiu com a política e com a atividade política. A vida do Dr. Mário Soares foi indiscutivelmente atravessada por uma forte e ativa intervenção política, tanto antes como depois da Revolução de 1974.
Ainda jovem advogado, o Dr. Mário Soares assumiu corajosamente a defesa de vários presos políticos, de vários antifascistas que se opuseram e lutaram com singular determinação contra o regime fascista, contra a ditadura fascista, combatentes, num combate absolutamente desigual.
Opositor ao regime fascista, o Dr. Mário Soares, foi preso, exilado, deportado e perseguido, como muitos outros antifascistas que corajosamente se envolveram em atividades de oposição à ditadura fascista.
Cofundador do Partido Socialista e seu Secretário-Geral durante um largo período de tempo, o Dr. Mário Soares exerceu outros relevantes cargos na vida política nacional: foi Deputado à Assembleia Constituinte e à Assembleia da República, exerceu as funções de Ministro e foi Primeiro-Ministro em três governos constitucionais, tendo sido ainda Presidente da República entre 1986 e 1996.
É verdade que, ao longo deste tempo, o Partido Ecologista «Os Verdes» nem sempre acompanhou, e muitas vezes divergiu até das decisões ou das opções políticas do Dr. Mário Soares, seja como Primeiro-Ministro seja como Presidente da República, mas também é verdade que Os Verdes sublinham e reconhecem ao Dr. Mário Soares a natureza inovadora das suas presidências abertas, nomeadamente a Presidência Aberta sobre o Ambiente e Qualidade de Vida. Uma Presidência Aberta que decorreu em abril de 1994 e que permitiu não só dar visibilidade a graves problemas ambientais como também para reforçar a importância e a relevância das questões ambientais e dos recursos naturais na discussão politica.
Pelos altos cargos que desempenhou depois do 25 de Abril e, sobretudo, pelo seu contributo na luta contra o regime fascista, contra a ditadura fascista, tanto como cidadão empenhado nos valores em que acreditava, como enquanto advogado na defesa de outros antifascistas, o Dr. Mário Soares merece o nosso respeito.
E nestas horas más e demoradas, vividas e sentidas pelos seus mais próximos, resta-nos, nesta sessão evocativa, reafirmar, junto dos seus familiares e do Partido Socialista, o mais sentido pesar pelo desaparecimento do cidadão empenhado e destacado dirigente político, Dr. Mário Soares.