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25/02/2011
Debate com o Sr. Primeiro-Ministro sobre políticas sociais
Intervenção da Deputada Heloísa Apolónia
- Assembleia da República, 25 de Fevereiro de 2011 -
 
 
 
 
 
1ª Intervenção

Sr. Presidente, Sr. Primeiro-Ministro: O senhor está sempre desejoso que as pessoas tenham a memória curta. Nesse sentido — e já foi denunciado neste debate — vem apresentar medidas velhas, que já foram inúmeras vezes anunciadas antes mas não concretizadas.
Denunciada a questão ao longo do debate, o Sr. Primeiro-Ministro, a partir de uma determinada altura, mudou de estratégia e disse que essas medidas dão muito bom resultado. Ora, o resultado dessas suas medidas, e de outras que tem tomado, é que a taxa de desemprego dos jovens é de 23%, o dobro da taxa de desemprego nacional; a taxa de desemprego de longa duração dos licenciados aumentou, de 2006 até à data, 89,8%, ou seja, quase 90% desde que o senhor é Primeiro-Ministro. Que lindos resultados, não é, Sr. Primeiro-Ministro?
Assim se prova, com esta realidade concreta — os números não são meus, são do INE —, que o Sr. Primeiro-Ministro trabalha para hipotecar o País, assim se prova, também, que o Sr. Primeiro-Ministro trabalha para iludir os portugueses. Mas não, Sr. Primeiro-Ministro! Já ninguém cai na sua esparrela.
Até vou dar outro exemplo. O Sr. Primeiro-Ministro, aos microfones, faz sempre os discursos que lhe convêm, mas quando fala baixinho, às vezes, fala verdade.
O Sr. Primeiro-Ministro, há poucos dias, foi colocar a primeira pedra na barragem do Tua, e fez um discurso. Entretanto, o que sabemos é que esta primeira pedra é a primeira pedrada na linha ferroviária do Tua, é uma pedrada na navegabilidade do Douro, é uma pedrada no Alto Douro Vinhateiro.
Mas o que se passaria na cabeça do Sr. Primeiro-Ministro?

O que ao Sr. Primeiro-Ministro talvez passasse pela cabeça foi o que disse quando se deslocou à barragem do Tua — aliás, num diálogo interessantíssimo entre José Sócrates e António Mexia.
Diz António Mexia: «Mas isto já tem uma obra significativa». Responde José Sócrates: «Tem, tem!», acrescentando: «Agora, só falta aqui é cimento». Diz António Mexia: «Está quase!» e responde José Sócrates: «Exactamente!».
É um diálogo tão revelador e tão «tramado», não é, Sr. Primeiro-Ministro?

2ª Intervenção

Sr. Presidente, Sr. Primeiro-Ministro: Para o Sr. Primeiro-Ministro é lamentável quando as pessoas o vêm aqui desmascarar. É claro! É evidente!
Já agora, as imagens que mostrei são de um filme muito interessante, um documentário de Jorge Pelicano denominado Pare, escute e olhe, que vivamente recomendo ao Sr. Primeiro-Ministro e a todos aqueles que querem perceber exactamente o que está em causa com a barragem do Tua e com a destruição da linha ferroviária do Tua. É assim mesmo, é assim mesmo!
O Sr. Primeiro-Ministro, para defender a barragem, vem com a questão da criação de emprego. Mas quero já dizer uma coisa, para o Sr. Primeiro-Ministro também não andar a dizer falsidades: Os Verdes não são contra todas as barragens.
Os Verdes são contra aquela barragem, em concreto, e contra a do Sabor também. Ou seja, quando as barragens não fazem sentido, por via da destruição do desenvolvimento e do potencial de desenvolvimento em concreto de determinadas regiões, quer o quê? Que sejamos a favor? Porque aquilo que o Sr. Primeiro-Ministro quer é que todos digamos «ámen» àquilo que o Sr. Primeiro-Ministro quer fazer e ao que anuncia.
Não, Sr. Primeiro-Ministro! Há pessoas com razoabilidade neste País que querem defender tanto o potencial de desenvolvimento como combater as assimetrias regionais deste País.
O Sr. Primeiro-Ministro fala na criação de um emprego temporário na construção da barragem. Mas, Sr. Primeiro-Ministro, já contabilizou quantos empregos se podem perder com a perda do potencial de desenvolvimento turístico e agrícola da região?
Não, não fez essas contas porque não lhe interessa! E o potencial de desenvolvimento do Alto Douro Vinhateiro, da navegabilidade do Douro, para efeitos turísticos, e da componente de mobilidade da linha ferroviária do Tua?!
Falou também da questão da dependência do petróleo, dos combustíveis. Pois é, o maior factor de dependência do petróleo está justamente no sector dos transportes. E os senhores o que estão a fazer? A encerrar linhas ferroviárias convencionais, estão a criar um crime ambiental e de mobilidade no País. Se o senhor não consegue perceber isso, Sr. Primeiro-Ministro, não consegue perceber mais nada.
Em relação aos números do desemprego jovem e de licenciados que forneci, vi que não os refutou e, portanto, lá bem escondidinho em si próprio, o Sr. Primeiro-Ministro sabe qual é a verdadeira realidade do País.
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