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11/06/2010
Interpelação sobre competitividade da economia e execução do QREN e sobre IVA e desemprego
Intervenção da Deputada Heloísa Apolónia
- Assembleia da República, 11 de Junho de 2010 -
 
 
 
 
Sr. Presidente, Srs. Membros do Governo, Sr.as e Srs. Deputados: Não dúvida de que o maior problema que vivemos neste momento em Portugal, nesta altura de grande dificuldade, é o do desemprego. E a perspectiva que os portugueses têm, com as más notícias que vão chegando, é a de que o desemprego tem tendência para continuar a crescer.
É inacreditável, portanto, que, num dia de interpelação sobre questões de competitividade da nossa economia, o Governo não tenha tido uma única palavra para aquele que deveria ser considerado, pelo próprio Governo, como o maior problema com que o País se confronta.
O Sr. Ministro não falou sobre ele, os Srs. Membros do Governo não falaram sobre ele e, portanto, colocam de parte, nesta discussão, aquela matéria que deveria ser o centro da discussão: 10,8% de taxa de desemprego, cerca de 600 000 desempregados, e muito provavelmente não é por aqui que vamos ficar.
Qual é a solução do PSD? Flexibilização da legislação laboral, ou seja, facilitar o desemprego e facilitar a precariedade.
Qual é a solução do Governo? Ainda não saberá bem. Talvez ainda não saiba bem se haverá ou não oportunidade para essa alteração da legislação laboral, mas uma coisa é certa: aplicarão esta, que é altamente flexível para facilitar o desemprego e para facilitar a precariedade, e aplicá-la-ão até às últimas consequências.
Portanto, a receita anda pela mesma medida! E quem se vai prejudicar no meio de tudo isto são os portugueses, que se confrontarão com o desemprego e com a precariedade.
Se isto é criar robustez económica e social na nossa sociedade, tem muito que se lhe diga. E até parece, pelos discursos que o Governo e o PS trazem a este debate, que tudo isto vai mudar a curto prazo. Quem ouviu as intervenções do PS e do Governo, ouviu: «Nós estamos a criar todos os mecanismos. Aliás, já está tudo a fazer-se sentir».
Não é isso que os portugueses sentem!
E por que é que os Srs. Deputados e os Srs. Membros do Governo não falaram do aumento do IVA? Não convém, não é verdade?! Não convém! É que esta foi uma das medidas mais certeiras que o Governo tomou, justamente, para estrangular e promover a estagnação da nossa economia.

Os Srs. Membros do Governo riem-se — devem achar graça! Naturalmente, acharam graça a esta medida de aumento do IVA. Diziam que não o iam aumentar, mas, afinal, aumentaram! Deram uma «machadada» na economia portuguesa e os nossos empresários, as nossas populações e os nossos consumidores sabem disso.
Aquilo que sabemos é que o Governo anda sempre com uma palavra na boca, em relação à situação que, actualmente, se vive em Portugal, que tem a ver com a justiça da repartição dos sacrifícios. Nota-se, Srs. Membros do Governo! O aumento do IVA é a melhor prova de que os senhores não estão absolutamente nada preocupados nem determinados com a justiça da repartição de sacrifícios.
Quando os senhores se atrevem a aumentar o IVA naquilo que diz respeito aos bens essenciais, está tudo dito sobre a vossa preocupação em relação à subsistência das famílias e à forma como as pessoas se conseguem suportar no meio desta «selva» que os senhores insistem em fomentar. Mas sobre o IVA, os senhores não falam! Não convém! De todas as medidas negativas que os senhores têm vindo a tomar não convém falar!
Mas há outras medidas negativas, como o corte nos investimentos. O corte nos investimentos públicos é do pior para a nossa economia, no momento que estamos a viver. E estes cortes no investimento têm, obviamente, reflexos naquilo que se tem estado aqui a discutir hoje, que é a taxa de execução do próprio QREN.
Como é possível que, desde o início do ano de 2007 até ao final do ano de 2009, se tenham disponibilizado para Portugal cerca de 8300 milhões de euros e que tenhamos apenas utilizado cerca de 1950 milhões de euros?! Ou seja, cerca de 6350 milhões de euros ficaram por utilizar. Dir-se-á: «Não faz mal, utiliza-se depois». Não é assim! É que é preciso aplicar o montante no momento certo, para haver repercussões no momento certo, e os senhores não fizeram isso. Portanto, foram mais algumas «machadadas» na nossa economia, para que ela, de facto, não ganhasse a robustez de que necessitava.
Vêm aqui falar muito da questão das exportações. Pois, com certeza! Naturalmente, é preciso fomentar as exportações, e tomaram muitas das nossas empresas ter condições para promover as exportações. Mas por que é que os senhores nunca falam do nosso mercado interno? Por que é que os senhores estrangulam permanentemente a dinamização do nosso mercado interno? Fizeram-no com o congelamento dos salários, com o corte no investimento, com o aumento do IVA, com o aumento dos impostos. Aquilo que os senhores estão a fazer é a estrangular, a criar uma economia completamente oca. As pessoas não podem ser agentes dinamizadores da economia.
Actualmente, vamos a vários mercados, a várias lojas, e começamos, paulatinamente, a ver expositores vazios. Não sei se os Srs. Membros do Governo costumam frequentar alguns mercados neste País mas começamos a ver expositores vazios e perguntamos aos responsáveis o que está a acontecer. Aquilo que nos é dito, imediatamente, é o seguinte: «os nossos fornecedores faliram» ou «os produtores faliram». Falência, falência, falência — é isto que Portugal está a conhecer neste momento! E atrás destas falências vem o desemprego, e é isto que os senhores continuam a fomentar!
Devemos apostar nas exportações, mas temos de apostar muito determinadamente no nosso mercado interno e na dinamização da nossa economia interna, e essa os senhores estão a estrangulá-la.
Um projecto de lei tão simples como aquele que Os Verdes apresentaram aqui, nesta Casa, no sentido da relocalização da nossa produção e do nosso consumo, que versava sobre o direito ao consumo local, foi negado pelo PS e pelo PSD. Quanto ao IVA, PS e PSD juntaram-se! Quanto aos cortes salariais, PS e PSD juntaram-se! São iguais! Não há mais nada a dizer! São amigos! É assim mesmo! São amigos e esta amizade estrangula o nosso País.

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